O bem e o mal
Transcrição de trecho de aula de *Cosme Massi, realizada por Rui Gomes Carneiro.*
Allan Kardec tratou inicialmente desse tema em “O Livro dos Espíritos”, ao apresentar, no primeiro capítulo da terceira parte de O livro dos Espíritos, que trata da “lei divina ou natural”.
Posteriormente, Kardec volta a abordar esse tema, entrando em muitos detalhes importantes, na obra “A Gênese”, publicada em 1868, em que, no terceiro capítulo, vai abordar “O Bem e o Mal”, desenvolvendo o que inicialmente constava em “O Livro dos Espíritos”.
As palavras bem e mal são empregadas em dois contextos diferentes, embora esses contextos estejam relacionados. O primeiro significado de bem e mal diz respeito ao mundo físico, ao mundo corporal. O segundo significado diz respeito ao mundo moral, o mundo da alma propriamente dito.
No que diz respeito ao mundo físico, material ou corporal, associa-se o bem ao bem-estar, à saúde do corpo, aos prazeres que o corpo oferece, à boa vida, à vida relativamente feliz ao se viver alegrias, prazeres, sem dor e sem sofrimento. A isso chamamos de bem, e dizemos que estamos bem, que estamos vivendo bem.
Também nesse mundo físico, material, utiliza-se a palavra mal no sentido contrário, quando se está sentindo dores, quando se está doente, quando se enfrentam momentos de luta e de dificuldades na vida corporal.
Esse conceito de mal está associado ao mundo material; quando se olha para o mal nesse sentido da palavra, se relacionando com dores e sofrimentos, ele é inerente ao mundo grosseiro de provas e expiações, em que o corpo físico produz doenças, gera dor, causando as dificuldades naturais da sua deterioração.
Então esse sofrimento físico, quando olhado do ponto de vista do homem, é entendido como mal, já que ninguém quer viver a dor, o sofrimento; o que se deseja é o bem físico, viver a alegria, o prazer.
Mas quando se olha de um ponto de vista mais elevado, percebe-se que essas dores, essas doenças, essas dificuldades têm um fim maior, e isso leva Allan Kardec, em “A Gênese”, capítulo “O Bem e o Mal”, a dizer que a dor é “o aguilhão que impele o Espírito para a frente, na senda do progresso”.
A dor leva o homem a progredir intelectualmente, desenvolvendo a ciência e a tecnologia, visando a enfrentar e diminuir as dificuldades do mundo material; quando essas lutas, essas dificuldades do mundo material, da vida física, são vistas como instrumentos do progresso, passa-se a entendê-las de uma forma diferente; ao invés de mal, passam a ser vistas como necessidade própria ao desenvolvimento do Espírito imperfeito, que tem que passar necessariamente pelas lutas, pelas dificuldades, pelas dores inerentes ao corpo físico para evoluírem, e para isso escolheram uma vida de provas e expiações em um mundo como o nosso. E, se viver bem, aproveitando sem reclamação suas dores, irá aprender, crescer, se desenvolver nesse mundo de lutas e de dificuldades, desenvolvendo as boas características morais.
Entretanto, o mal físico, esse sofrimento do corpo, é sempre transitório, ou seja, ele terá um fim. Ele pode durar no máximo o tempo de uma existência corporal, tão curta quando comparada com a existência da alma, que é eterna!
Na erraticidade, a alma não passa por dores físicas, ela não tem esses sofrimentos inerentes à matéria grosseira do corpo. Então, sofrimento físico só se tem quando encarnado.
Deus, em sua sabedoria, fez essa dor transitória, apenas como instrumento durante as existências corporais em um mundo de provas e expiações. À medida em que o Espírito avança, aprende e se desenvolve, ele vai habitando mundos melhores que o nosso, e passam a ocupar corpos materiais mais sutis, sem a grosseria dos nossos, menos suscetíveis à dor física e aos sofrimentos. Com isso, o processo de sofrimento e de dor vai deixando de existir do ponto de vista corporal com o desenvolvimento moral.
Repetindo, a dor física, esse mal físico, tem uma duração muito curta, e tem um objetivo maior, que é o de fazer a alma crescer, se desenvolver, ao mesmo tempo em que possibilita o resgate do mal moral que tenha praticado no passado.
E aí nós entramos no outro conceito de bem e de mal, o moral, que é o conceito mais relevante, que é aquele que diz respeito às nossas escolhas, à nossa liberdade de seguir ou não seguir a lei de Deus.
Os conceitos morais de bem e de mal são definidos a partir de lei natural, que engloba as leis morais. Quando o indivíduo escolhe agir de acordo com a lei moral, ele está fazendo uma escolha no bem, ele está indo no caminho do bem. Quando ele faz uma escolha contrária à lei moral, ele está fazendo uma escolha no caminho do mal, e ele vai sofrer as consequências desta sua escolha.
Vencer o mal moral depende exclusivamente do esforço de cada um, da vontade de cada um. É um processo de substituir o comportamento comandado por paixões involuntárias pela escolha voluntária de viver segundo as leis de Deus, para que possa ser cada vez mais feliz. Só assim deixará os mundos de provas e expiações, esses mundos grosseiros de dor, e seguirá para mundos mais elevados onde o corpo físico não passa pelas adversidades do corpo comuns em mundos como o nosso.
Então, os dois conceitos, físico e moral de bem e mal, estão relacionados. Quando cumprimos o bem moral permanecemos muito menos tempo em mundos de mal físico; rapidamente abandonamos os mundos de sofrimento da matéria, os problemas das dores e as dificuldades da matéria, que vão diminuindo à medida que o Espírito avança.
Veja-se a importância de nos atermos aos conceitos de bem e de mal do ponto de vista moral, porque é esse que vai determinar o futuro no que diz respeito ao mundo em que iremos habitar.
Na vida espiritual, Deus, em sua sabedoria, fez com que o mal moral fosse o único que pudesse permanecer. Então, o mal proveniente do ciúme, do egoísmo, da inveja, da raiva, do ódio, esse acompanha o Espírito, mesmo após a morte do corpo.
Os sofrimentos morais que surgem no indivíduo que tem essas paixões ruins, causadoras de tristezas, de sofrimento moral, vão acompanhar o Espírito em toda sua jornada, até que ele as abandone, até que ele enfrente esses sentimentos ruins sem revolta, até que mude sua natureza moral, desenvolvendo apenas bons valores causadores apenas de desejos no bem, bons sentimentos, boas emoções, abandonando as paixões ou emoções ruins.
O sofrimento moral não é menos intenso do que o sofrimento físico. Às vezes o sofrimento físico tem um remédio, algo que se toma e alivia a dor, mas o sofrimento moral só é encerrado com o esforço de quem o sofre, só vai ser eliminado nessa luta que o indivíduo tem que praticar para vencer esses sentimentos ruins, cumprindo a lei de Deus para cultivar as emoções boas.
O mal ou o bem moral depende exclusivamente da alma, do seu esforço, da sua luta, do seu trabalho. E esse bem ou esse mal acompanhará a alma até que ela faça sua transformação moral, até que se torne um dia um Espírito bom da escala espírita, aquele que só deseja o bem, caminhando para o estado de Espírito puro, quando será completamente independente da matéria, vivendo longe das vicissitudes dos mundos materiais.
Essa felicidade plena e definitiva, esse bem maior que nos compete construir, virá porque Deus nos fez perfectíveis, nos criou com a capacidade de progredir ao longo da nossa existência de Espírito.
Durante nosso processo de evolução fizemos escolhas infelizes, optamos por contrariar as leis de Deus, e então nos apegamos aos vícios, às paixões ruins, aos apegos materiais, à sensualidade, e entramos em mundos de provas e expiações, sofrendo todas as dificuldades desses mundos atrasados até que, por nosso esforço e vontade, impulsionados pela dor e sofrimento, aprendamos a refazer o caminho, a fazer as melhores escolhas, a ir avançando segundo a lei de Deus.
Na sabedoria divina o mal é sempre transitório, dura o tempo da reforma, da transformação moral, do progresso do Espírito, e quanto mais rápido ele avança, mais cedo ele se livra, seja do mal físico em mundos corporais grosseiros, seja do mal moral que o acompanharia sempre se ele não abandonasse esses sentimentos ruins, se ele não abandonasse o desejo do mal, que o leva a violar a lei de Deus.
Veja a sabedoria de Deus, que é justo e bom; fez o bem como a única realidade definitiva e eterna, já que, na medida em que o Espírito avança, o bem vai se tornando permanente para todo o sempre.
Já o mal como sofrimento físico é transitório, necessário para corrigir a alma, para fazer que ela cresça, que ela avance, que ela aprenda, e tem uma duração curta, é proporcional ao esforço, ao trabalho de cada um.
Essa é a sabedoria divina, que permite que o mal físico surja como necessidade ao nosso progresso, mas por um tempo curto, com duração que depende apenas do esforço e da luta de cada um contra seus vícios, seus maus hábitos, que podem ser vencidos, já que só o bem permanece, só o bem é eterno.
Está em nossas mãos diminuir ao máximo aquilo que nós chamamos de mal, seja o mal físico, seja o mal moral, já que, como vimos, quanto mais avançamos no bem moral, mais nos livramos dos males, sejam eles físicos ou morais.
— Recomendação: estude a aula “O bem e o mal” disponível no KARDECPlay.
*Resposta de Cosme Massi na live O BEM E O MAL — Explicações Segundo a obra “A Gênese”. Christian Spiritist Community of Atlanta - Transmissão ao vivo em 06 de dezembro de 2020.
*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
E então, já conhece e estuda com o KARDECPlay?
O KARDECPlay é o Netflix de Kardec. São centenas de vídeos para estudar Espiritismo, com o pensamento e a obra de Allan Kardec;
Toda semana vídeos novos na plataforma;
Canal no YouTube com resumos gratuitos de 1 a 2 min de cada videoaula;
Estude 24h/dia onde e quando quiser;
Todo o valor arrecadado é investido na divulgação da doutrina espírita para o Brasil e o mundo.
Agora você pode estudar as videoaulas via App direto no seu celular. Disponível para download em iOS na App Store e para Android no Google Play. Clique no link para baixar:
- App Store: https://bit.ly/app-kardecplay
- Google Play: https://bit.ly/app-googleplay-kardecplay
Participe de nossa missão de levar Kardec para todo o mundo!
Todos os nossos produtos são criados para estudiosos da Filosofia Espírita e baseiam-se nas obras e pensamento de Allan Kardec. Todos os valores arrecadados são destinados ao IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec).
Este é um projeto: IDEAK | KARDECPEDIA | KARDECPlay | KARDEC Books