O que é o pensamento segundo a doutrina espírita?
Resposta de Cosme Massi* no Seminário "O PERISPÍRITO", proporcionado pela USE de São José do Rio Preto em 19 de agosto de 2019.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Existem duas formas opostas de se compreender o que seja o pensamento: A forma espiritualista, que entende que o ser humano é uma alma imortal e que é o ser que pensa, e a forma materialista, que acredita que quem pensa é o cérebro utilizando-se de uma estrutura desconhecida, a que chamaram mente, e que morre com a morte do corpo.
Mas, o que são os pensamentos? Para os espiritualistas, que acreditam que somos uma alma, pensamentos são todos os estados internos dessa alma: vontade, desejos, sentimentos, emoções, paixões, consciência, memória, raciocínio, tudo aquilo que ocorre na alma são pensamentos. Se dizemos que estamos sentindo alguma coisa, isso que sentimos é um pensamento. Quando dizemos que vemos, que percebemos, quer seja uma percepção externa, como quando olho para uma paisagem e percebo árvores, animais, pássaros, quer seja na minha percepção interna, quando percebo que estou pensando em alguma coisa, quando tomo consciência de que estou pensando, tudo isso são pensamentos. Isso para o espiritualista, aquele que acredita na alma. Poderíamos dizer que pensamentos seriam “estruturas” internas da alma, mas nós não sabemos o que sejam realmente.
Além disso, é interessante notar que sequer conseguimos conceituar o pensamento sem precisarmos do próprio pensamento, já que todo conceito é um pensamento. Ou seja, o conceito de pensamento só pode ser reduzido a outro pensamento. Não é possível sair do pensamento para falar do pensamento. O pensamento não permite o olhar externo. O indivíduo não consegue sair do seu pensamento para examinar o seu pensamento, o pensamento só permite o olhar interno, por introspecção. Se não se pode observar o próprio pensamento de fora, também não se pode observar o pensamento de outras pessoas. Podemos observar certos efeitos que as pessoas produzem em função do que estão pensando, como movimentos, mudanças de expressões faciais, sons que produzem com a voz.
Assim, quando alguém está falando, não se pode dizer que ela esteja transmitindo seu pensamento. Neste caso, a pessoa tem pensamentos que, sem saírem de sua alma, comunicam ao cérebro a incumbência de produzir sons; o cérebro capta a mensagem e comanda a produção de sons nos órgãos competentes, e os sons emitidos são percebidos por outro indivíduo e levados à sua alma, que os interpreta ao transformá-los em pensamentos. Os pensamentos, tanto de quem falou como de quem ouviu, estão exclusivamente na sua alma, eles não saem da pessoa, é um estado interno da própria alma. Isso do ponto de vista do espiritualismo.
Por outro lado, existem doutrinas materialistas, que são antigas, que definem o pensamento como propriedade da matéria, do cérebro. Outras correntes filosóficas e psicológicas criaram o conceito de “mente”, que seria certa propriedade da matéria que produziria ou que causaria o pensamento. Para o Espiritismo não existe mente, o que existe é a alma, e a alma é quem pensa. Não existe esse elemento “mente” criado pelo cérebro e que gera o pensamento. Mente, para os materialistas, é uma propriedade da matéria que desaparece com a morte do corpo físico: quando o cérebro morre, a mente também morre. A alma pensante, para os espiritualistas, sobrevive à morte do corpo.
Vemos que o conceito de mente na filosofia e na psicologia vem das doutrinas materialistas, que poderiam simplesmente aceitar a alma. Mas, preferiram criar um outro conceito, que eles também não sabem dizer o que seja, já que desconhecem de que maneira o cérebro criaria essa mente. É curioso que criaram a palavra mente para não aceitar a palavra alma, mas eles não conseguem dizer como ela, a mente, se forma. É interessante: com os argumentos de que não se sabe o que é a alma e que ela não tem existência material, criaram o conceito de mente, que não sabem o que é, e não tem existência material. Eles não explicam de que maneira o cérebro criaria a mente. Tomam a mente como um dado; então por que não tomaram a alma como um dado?
Os espiritualistas identificam a alma com o próprio pensamento ao dizer que a alma é quem pensa, é o ser pensante. Então os materialistas, para não se comprometerem com a palavra alma, criaram a palavra mente. Para o Espiritismo é muito mais simples: o corpo não pensa, o corpo não produz nenhum fenômeno mental, emoções, ideia, memória, sentimentos, percepção. Ideias, imaginação, tudo isso está exclusivamente na alma, e em nenhum outro lugar. Tudo isso constitui o mundo de pensamentos, o mundo íntimo da alma.
No século XVIII e depois, no século XIX, o materialismo insistia na ideia de pensamento como uma secreção do cérebro ou da mente, à semelhança de como o fígado secreta a bile. O pensamento seria uma espécie de secreção da mente, algo extremamente complicado, o que contraria Renê Descartes, que, em sua produção filosófica no geral e em “As Paixões da Alma”, em particular, já deixa claro que não há nenhuma propriedade material que se possa aplicar ao pensamento. Por exemplo, uma secreção ocupa um certo lugar no espaço, ela existe de maneira independente; a bile, uma vez produzida pelo fígado, tem existência própria; pode-se estudá-la, pegá-la separadamente, determinar seu volume, seu peso. Já o pensamento não tem existência fora daquela alma que pensa! Ele está na alma, não é uma secreção dela, algo que saia dela, se saísse dela, ele teria uma existência independente.
Então, em Filosofia se diz que o pensamento só tem existência em primeira pessoa; ele só existe para o “eu”, no momento em que o “eu” pensa. O pensamento só existe no indivíduo no momento em que ele pensa, ele não existe fora da alma, em algum lugar, ele não é uma secreção, ele não é uma onda eletromagnética, uma força eletromagnética, como se encontra inclusive na literatura espírita! — Ao colocar o pensamento como algum tipo de onda, algum tipo de vibração, está se afirmando que ele tem propriedades da matéria; mas o pensamento não é e não tem propriedades da matéria, já que não tem os elementos básicos da matéria, como a extensão, a forma, a cor, não tem vibração, não ocupa lugar no espaço, não existe no espaço. O pensamento só existe como propriedade interna à alma, enquanto a alma está pensando. Se a alma muda de pensamento, imediatamente o pensamento que estava acontecendo desaparece, e é substituído pelo outro.
Assim, não se consegue separar o ato de pensar do próprio pensamento, porque o pensamento só existe durante o ato, enquanto se pensa, ele não existe nem antes nem depois, ele existe no momento em que se pensa. Se a pessoa muda de pensamento, o pensamento anterior deixa de existir, e agora é outro pensamento ocupando a alma; por isso não se pode separar o ato de pensar do próprio pensamento.
Ao pensar a pessoa já toma conhecimento do que pensou, ou seja, não é possível pensar e não saber em que pensou; se nos propomos a observar o pensamento, já estamos pensando. Não tem como separar pensamento de alma; a alma é o ser pensante. Veja a complexidade do conceito de pensamento. Se tentarmos analisá-lo quando estamos pensando, se observarmos nossos pensamentos de maneira introspectiva, perceberemos que eles são simples. Embora não se consiga olhá-lo de fora, pode-se olhá-lo de dentro. Nós sabemos quando estamos com ciúme, quando estamos tendo uma ideia, ou raciocinando, sabemos se estamos alegres ou tristes, quando temos vontade, se estamos com algum desejo, ou seja, os tipos de pensamento são conhecidos por nós em nós, já que não os podemos conhecer nos outros.
Embora não possamos identificar no outro, podemos imaginar que, se temos certos tipos de pensamentos, as outras pessoas, que são semelhantes a nós, também os tem. É uma inferência, que parte do pressuposto de que todos os seres humanos têm os mesmos tipos de pensamentos.
Se alguém define a 'vontade', pensamos “Ah, eu também tenho esse tipo de pensamento!”, e aí, por meio de conversas e estudos, vamos constatando que também temos desejos, raiva, consciência, memória, etc. Dessa forma podemos conhecer e nominar cada um dos pensamentos, o que levará a nos conhecermos quanto aos nossos sentimentos, emoções, raciocínios, enfim, a tudo aquilo que expressa o que temos em nosso mundo íntimo.
Essa é uma diferença muito importante entre o Espiritismo e o materialismo. O materialismo coloca o pensamento como secreção, algum tipo de onda, como matéria ou propriedade da matéria. É um equívoco; não existe, por exemplo, uma ideia que se apresente como matéria. Ao formularmos uma ideia, um conceito, essa ideia não tem uma existência independente, não ocupa espaço, não se pode encontrar com uma ideia aqui ou acolá, a ideia só existe na alma enquanto a temos, enquanto estamos pensando nela.
Quando Descartes disse “Eu penso, logo existo”, tentando provar a existência da alma dessa forma, vários filósofos o criticaram, porque o “eu penso” já é um pensamento; Kardec não seguiu o caminho de Descartes, ele optou por outro caminho. Ele prova a existência da alma a partir do princípio de causa e efeito. Quando se olham os efeitos inteligentes produzidos nos fenômenos espíritas, percebe-se uma inteligência se manifestando fora dos médiuns, fora dos encarnados; são Espíritos invisíveis expressando seus pensamentos através do uso de pranchetas, de mesas, das mãos das pessoas. Se o pensamento só existe no interior da alma, e temos uma inteligência fora de corpos, é óbvio que ela está em uma alma que não vemos, ou seja, em uma alma que não está ocupando um corpo físico. Não tem como negar logicamente a existência da inteligência fora do corpo físico.
Assim, para os Espíritos, é muito simples: somos almas que pensam. A essência da alma é pensar, a ponto de os Espíritos dizerem que a alma é — quase — o próprio pensamento.
Vejamos Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 89a:
"O pensamento não é a própria alma que se transporta?"
“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”
O que que significa esta frase: “quando o pensamento está em alguma parte a alma também aí está”? Significa que o pensamento é inseparável da alma! Se o pensamento está em algum lugar, a alma também está lá. Não é algo que possa sair da alma. Então essa resposta dos Espíritos descarta a tese de que o pensamento possa ser uma secreção da mente, como querem psicólogos e filósofos materialistas. Não pode ser uma secreção, porque se fosse sairia da alma, poderia estar onde a alma não está, e os Espíritos nos ensinam exatamente o contrário. Por quê? Porque o pensamento é um atributo, uma qualidade da alma, não é algo que a alma produz para fora; é uma qualidade intrínseca a ela, interna a ela.
É muito parecido com a dureza de uma mesa: não se consegue tirar a dureza da mesa e colocar essa dureza em algum lugar. A dureza da mesa é um atributo da mesa. Não se consegue tirar a forma de um objeto e levá-la para outro lugar; a forma está nele. Pode-se ter uma forma parecida em outro objeto, que também não pode ser tirada. Não se consegue tirar aquilo que constitui atributo da coisa; o atributo da coisa só existe onde a coisa existe.
O conceito de substâncias que têm existências independentes é outro. Aquele microfone sobre a mesa e eu somos substâncias diferentes, coisas diferentes, ele está lá e eu estou aqui. Se quebrarem o microfone, não serei quebrado também. As coisas em Filosofia são tratadas na terceira pessoa, é um isto, um aquilo, sempre na terceira pessoa: "esta cadeira", "esta pessoa", "esta água", "este microfone", "esta mesa"; mas eu não posso dizer "este pensamento", pois o pensamento está em mim, dentro da minha alma, só tem existência em primeira pessoa, enquanto eu penso. Percebe a dificuldade que é?
Não podemos confundir a expressão de um pensamento utilizando a fala, ou a escrita, ou de outra maneira qualquer, com o próprio pensamento. O pensamento está na alma, ninguém pode vê-lo, ouvi-lo, senti-lo, conhecê-lo. Entre encarnados, só o ser que pensa conhece seus pensamentos.
É inconciliável com o Espiritismo a ideia materialista de mente, pois essa ideia é a negação da doutrina espírita. Mas o movimento espírita está recheado de conceitos próprios do materialismo, criando grandes contradições.
Reforcemos: o pensamento é um atributo intrínseco da alma, e só existe onde a alma existe. É por isso que os pensamentos pertencem exclusivamente ao indivíduo que está pensando; eles são a sua marca, eles fazem parte da natureza interior da pessoa, são parte dela. Os pensamentos são aquilo que verdadeiramente define o que aquela pessoa é, que a caracteriza; a pessoa é definida por aquilo que ela pensa, nesse sentido amplo, pela sua vontade, pelos seus desejos, pelas suas emoções, tudo isso a caracteriza, é a marca de si mesmo enquanto alma.
Assim, os pensamentos caracterizam a alma, dão suas qualidades, e essas qualidades e características da alma vão dar as qualidades da matéria fluídica que envolve a alma: seu perispírito. Quanto mais puros os pensamentos, tanto mais sutil o perispírito; quanto mais grosseiros os pensamentos, tanto mais grosseiro esse corpo espiritual. Agora estamos falando da influência dos pensamentos nos fluidos, e não o que é o pensamento. Enquanto existe, o pensamento pode, sem sair da alma, influenciar e dar formas aos seus fluidos. Ao pensar em uma pessoa, os fluidos podem tomar a forma dessa pessoa. Se penso em um objeto, os fluidos podem assumir a forma desse objeto. Mas não é que o pensamento saiu da alma e mudou os fluidos; ele, de alguma maneira, sem sair da alma, influenciou os fluidos que assumiram a forma do que se pensou. O fluido tomou a forma daquela minha ideia.
Kardec fala da "fotografia do pensamento", mas ele deixa claro que isto é metafórico; não é que o pensamento saiu da alma e ficou em algum lugar, onde foi fotografado. Não é nada disso. Kardec não era ingênuo, não se iludiria com hipóteses que teriam contradições com a doutrina que ele estruturava e seriam ilógicas; Kardec dominava a filosofia espiritualista, conhecia muito bem Descartes e todos os grandes filósofos da humanidade.
Mas, o que é então essa fotografia do pensamento?
Primeiro vamos entender: nem toda ideia pode gerar uma forma, ou seja, só se pensarmos em algo que tenha forma os fluidos assumirão essa forma. Imagine que tenhamos a ideia de democracia: é impossível dar uma forma à ideia de democracia. O conceito de democracia não pode ser fotografado. Democracia é um conceito abstrato, e como tal não pode proporcionar uma imagem. A maior parte dos conceitos científicos sequer tem formas que possam ser reproduzidas em imagens e ser fotografadas. Então, nem todos os pensamentos podem ser fotografados.
"Fotografia do pensamento" é uma metáfora. Quando a alma pensa ela dá qualidade aos fluidos, e alguns pensamentos podem produzir formas no fluido, e essas formas é que poderiam ser “fotografadas”, pelo fato mesmo de terem forma. Kardec não estava preocupado em fotografar pensamento; ele queria dizer que os fluidos sofrem importante influência dos pensamentos.
Kardec foi muito lúcido na construção do Espiritismo, sempre com clareza e simplicidade: o pensamento é um atributo da alma, só existe onde a alma está, não existe em nenhum lugar onde a alma não esteja, é uma característica intrínseca a ela, não é uma secreção, não é uma onda, não é nada que saia da alma ou do perispírito.
Esse é outro ponto importante: o pensamento e o perispírito. Quando Kardec diz que o pensamento está na alma, ele está dizendo que está no ser pensante, no Espírito — sem considerar o perispírito —; o pensamento não "sai" da alma; significa que o pensamento não está no perispírito, não acontece nele, mas ocorre exclusivamente no ser pensante, na alma. Então o perispírito não tem memória, uma vez que memória é um pensamento.
Vamos fazer um parêntesis: quando se fala que um computador tem memória, a pessoa está usando uma metáfora. Pen drive e computador não têm memória; eles têm características físicas que, colocadas em uma tela, um monitor, geram uma série de rabiscos pretos e brancos, que são captados pela visão e o próprio indivíduo os transforma, na alma, em um pensamento. Quando olhamos uma fotografia de uma pessoa querida que não vemos há 20 anos, não tiramos da fotografia fatos, acontecimentos, sentimentos, emoções. Isso não existe na fotografia, ela não tem memória, ela tem apenas os elementos físicos que, quando os percebemos, despertam em nossa alma a memória, as lembranças de acontecimentos vividos, de saudades, uma série de estados internos da alma provocados por aquele elemento material. Aquele elemento material não tem memória, ele só despertou a sua lembrança na sua alma.
Voltemos aos pensamentos e o perispírito.
Vamos supor que a memória estivesse no perispírito, e que o Espírito fosse trocar de planeta; como se sabe, nessa situação há troca de perispírito. Então toda a memória desse Espírito seria perdida? Chegaria no outro planeta totalmente ignorante, não se recordaria de nada que já viveu, porque está envolto por fluidos próprios daquele mundo? Aceitar isso é ingenuidade, é não entender o que é o pensamento, é desconhecer o que os filósofos já demonstraram há muito tempo.
Consciência, memória, ideia, vontade, emoção, desejo, etc. são pensamentos, são estados internos da alma, é a alma que os possui. Esse é o elemento-chave para não confundirmos o Espiritismo com o materialismo, o que está acontecendo no movimento espírita.
Conceitos ligados à psicologia de doutrinas materialistas, como os de mente, subconsciente, inconsciente, etc. estão sendo levados por alguns indivíduos para dentro do Espiritismo, e essas pessoas se esquecem das sérias consequências a que essa visão leva na compreensão do próprio Espiritismo. Esquecem-se que são conceitos da doutrina materialista, que só têm sentido e significado nessa doutrina, que supõe que tudo se acaba com a morte, inclusive a alma com a mente e seu consciente, inconsciente, subconsciente, etc. Para nós esses conceitos não têm nenhum sentido, dentro do Espiritismo.
Descartes chama a alma de substância pensante, já que não se consegue separar o ser que pensa do próprio pensamento. O pensamento é o atributo essencial, é aquilo que caracteriza a alma, aquilo que marca a alma, que a define.
Lamennais diz que a alma é o pensamento, e ela não muda de natureza. Por que não muda de natureza? Porque se isso ocorresse ela iria perder sua memória, seus sentimentos, virtudes, seus conhecimentos, tudo aquilo que são estados internos da alma. Teríamos então a não validade de uma das leis de maior importância no Espiritismo, o princípio de não retrogradação da alma. Por que a alma nunca regride? Porque não se pode mudar sua natureza, não é possível tirar dela o que ela aprendeu, porque não há como entrar dentro da alma e destruir o que lá existe. Não existe nada que danifique a alma. Por isso ela não muda de natureza, ela permanece sempre a mesma, do ponto de vista de sua organização, ela só muda de natureza moral, com a aquisição de novos conhecimentos.
A vida intelectual reside no Espírito, e somos almas inteligentes e imortais, e não corpos que morrem; essa é a diferença essencial entre essas duas doutrinas, o Espiritismo e o materialismo.
A vida intelectual nada tem a ver com o perispírito; o princípio da vida intelectual é o Espírito, o ser pensante. Tudo que é intelectual, tudo que diz respeito ao pensamento é exclusivo da alma.
Por isso o materialismo e o Espiritismo são inconciliáveis, porque eles têm pontos de partida opostos. Não tem como fazer um Espiritismo materialista, ou um materialismo espírita, isso é impossível dentro da coerência e da lógica. Eles são excludentes; se aceitamos o Espiritismo, automaticamente recusamos o materialismo, se mantivermos a coerência de princípios. Não tem como conciliar princípios que são logicamente opostos.
Kardec nos legou uma obra lúcida para que não cometamos esse tipo de erro, misturando conceitos e princípios incompatíveis.
Diz Kardec em O Livro dos Médiuns:
“Porém, o perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação.”
Reafirmamos então que os pensamentos não estão no perispírito, não existe memória no perispírito, nem vontade, desejos etc., o que já comentamos antes. Tudo isso está exclusivamente na alma. Imagina depois de várias encarnações trocarmos de perispírito e esquecemos de todas as pessoas amigas, familiares, tudo que já construímos em termos de virtudes, todos que já amamos! Todo conhecimento que adquirimos ser perdido, porque estava armazenado no perispírito. Trocou o perispírito: perdeu a memória. É falta de bom senso imaginar isso! Os princípios espíritas são lúcidos, todos se encaixam, sem contradições.
Filósofos materialistas modernos, discordando daqueles pensadores materialistas que caracterizavam o pensamento como secreção ou outra coisa que o cérebro produza, esses filósofos materialistas modernos estão definindo metafisicamente a matéria como “aquilo que não é espírito” (espírito, para nós, com letra ‘e’ minúscula, significando pensamento).
O que é matéria na metafísica? É aquilo que não é pensamento. O resto é matéria! É a definição negativa metafísica da matéria, em que não se diz o que ela é, mas o que ela não é. Dizer o que é a matéria compete à física, à química, mas podemos dizer o que ela não é: ela não é pensamento. Não existe uma coincidência entre as propriedades da matéria e as propriedades do pensamento. Examinando uma ideia não se consegue encontrar nenhuma propriedade que se encontraria em algum tipo de matéria, nem partícula, nem onda, nem campo, nenhuma característica que se use nas diversas ciências pode ser atribuída a nenhuma ideia, a nenhum pensamento.
Existe um tipo de pensamento que é o sentir, que como todo pensamento só pode estar na alma. Vejamos Kardec, no item 257 de “O Livro dos Espíritos”:
“Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu.”
Sentir é um tipo de pensamento, que só pode estar na alma. Se houvesse perispírito sem alma, o perispírito nada sentiria.
Quando se fala “o corpo está sentindo dor”, isso é metafórico para o espírita e realidade para o materialista. Para o materialista o corpo está sentindo dor, é o que ele pensa, já que não admite a existência da alma imortal. Mas para o espírita, é a alma quem sente dor, porque é a alma quem tem a capacidade de ter pensamentos. Corpo e perispírito são matérias diferentes, mas como matéria não tem a possibilidade de sentir nada, são meros transmissores de estímulos que chegaram ao corpo. O corpo, então, transmite efeitos físicos, efeitos elétricos que são interpretados pelo Espírito como dor, como sensação de dor. Sentir é do Espírito; o corpo não sente nada, só transmite.
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*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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