P A PRECE NA VISÃO ESPÍRITA PARTE II – QUALIDADE DA PRECE
Seminário “A eficácia da prece” transmissão da “Allan Kardec TV” em 11 de março de 2014 e Kardecplay, vídeo 85 – A prece – parte I.
Transcrito por Rui Gomes Carneiro. (Nota do Transcritor - O conteúdo desse texto foi elaborado com informações transcritas dos dois vídeos mencionados).
Qualquer prece agrada a Deus? Vejamos o item 658 de O Livro dos Espíritos:
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo II — 1. Lei de adoração > A prece. > 658
658. Agrada a Deus a prece?
“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Mas não creiais que o toque a do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.”
Kardec pergunta aos Espíritos se a prece, esse tipo particular de adoração, agrada a Deus, se está de acordo com a Sua vontade, e eles respondem: “A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para ele, a intenção é tudo.”
Desta forma é necessário que a prece satisfaça algumas condições, sendo a primeira que ela deve ser ditada pelo coração. Isso significa que ela deve refletir o mundo interno do indivíduo que ora, deve ser aquilo que realmente ele está sentindo, aquilo que de fato constitui a sua realidade mais profunda.
E os Espíritos prosseguem dizendo que “Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração”; então o valor da prece para Deus não está no texto, na forma, mas sim nos pensamentos, nos sentimentos, naquilo que o indivíduo coloca de si mesmo na comunicação. Assim, de nada adianta uma prece bonita do ponto de vista linguístico se não refletir os verdadeiros sentimentos e pensamentos, e as intenções daquele que ora.
A intenção é importante: por que aquela pessoa está orando? O que realmente ele deseja com sua prece, qual sua verdadeira intenção? Está pedindo paz, mas vive causando dificuldades? Pede saúde, mas vive de maneira insalubre? Quer ajuda material, mas não divide o que tem? Quer perdão, mas não perdoa quem o ofende?
Deus olha a verdadeira intenção da prece, sua sinceridade, seu objetivo. Por que aquela pessoa está se dirigindo a ele, por meio da prece? Isso deve ficar claro ao falarmos com Deus, e deve estar envolto pelos verdadeiros sentimentos do indivíduo em relação ao que pede. Afinal, pode-se pedir saúde para alguém enquanto no íntimo se torce para que sua saúde piore!
Deus prefere a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. São os sentimentos que impulsionam nossos pensamentos até ele. Ficar repetindo muitas vezes uma prece decorada sem o envolvimento do coração é ineficiente. É preferível conversar com Deus, conversar com o anjo guardião “Olha, Pai, estou aflito, me desesperando, me ajuda por favor a me acalmar, me ajuda a achar a melhor solução para esse problema”.
Mas os Espíritos colocam ainda mais condições para uma prece ter boa qualidade: a prece “deve ser dita com fé”, porque a fé é a demonstração de confiança em Deus, de confiança em suas leis, nos seus desígnios.
Aquele que ora precisa confiar em Deus para aceitar a sua determinação. Nem sempre aquilo que ele pede na oração será atendido na forma como ele pede, por isso a importância dessa atitude de fé, de confiança, para se entregar à determinação divina. Orar pedindo o auxílio, mas sabendo que Deus o ajudará segundo a Sua vontade.
Não podemos nos esquecer que estamos em constantes provas e expiações, que precisamos delas, e que Deus as conhece todas. Assim, ele nos dará não exatamente aquilo que pedirmos, mas aquilo que necessitarmos. Temos que ter fé absoluta nisso: Deus sabe o melhor para nós, ele conhece a nossa necessidade, e jamais nos daria o que nos afastasse de suas leis naturais. O melhor a se pedir, como veremos adiante, é coragem para enfrentar todas as dificuldades, paciência diante das dificuldades, resignação com a própria impotência frente aos fatos, sabendo que Deus sabe o melhor para nós, e conselhos para melhor resolvermos a situação, segundo as nossas reais necessidades.
Além disso, os amigos espirituais nos dão mais duas condições que atribuem boas qualidades à prece: “... Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade”. O fervor mostra o envolvimento do mundo interior da criatura, mostra que está sinceramente disposta a entrar em comunicação com Deus, com amor, com confiança, com seus sentimentos mais elevados e com muito ardor! A sinceridade, sem pensamentos ocultos, sem segundas intenções, sem tentar enganar a Deus, o que é impossível, já que ele sabe nossos pensamentos mais íntimos e ocultos. Fervor e sinceridade são fundamentais: orar por obrigação, porque falaram que é preciso, por medo de castigo, sem emocionar-se por falar com Deus, de nada adianta.
Em seguida os Espíritos deixam bem definido um dos principais objetivos da prece: a transformação interior, a superação dos vícios e o desenvolvimento das virtudes: “Mas não creiais que o toque a (prece) do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade”.
Isso realmente interessa: usar a prece como uma ação de transformação interior, como forma de pedir auxílio a Deus com a disposição sincera de sua reforma moral, de enfrentar as paixões ruins que traz na alma.
De que adianta entrar em comunicação com Deus sem desejar sinceramente superar seus vícios? Não é o objetivo principal da prece a transformação moral da alma? Com a prece entramos em contato com os Espíritos superiores e com Deus, obtendo o apoio, a ajuda necessária para a nossa mudança no mundo íntimo. Por isso o homem fútil, egoísta e orgulhoso, se não mudar o seu proceder, não será ouvido por Deus! As virtudes impulsionam as vibrações dos pensamentos até o infinito, mas os vícios não impulsionam além da própria alma.
O indivíduo que permanece fútil, orgulhoso e egoísta não está preocupado com a sua transformação moral, não entendeu o papel da prece; a verdadeira importância de orar com sinceridade, com fé, com ardor, manifestando sua disposição interior é a transformação ética, para o desenvolvimento das virtudes. A prece sem ter isso em vista não chegará a Deus!
Kardec continua abordando o tema qualidade da prece em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, agora preocupado com as qualidades que uma prece deve ter para garantir que ela seja eficiente, que ela permita atingir os fins desejados.
Vejamos, então, como Kardec aborda o assunto em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XXVII - Pedi e obtereis > Qualidade da prece
4. Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (Cap. X, nos 7 e 8.)
Assim, uma qualidade da prece, segundo Jesus, é que ela deve ser feita em secreto. Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto.
Por que essa necessidade? Porque a prece é uma comunicação com Deus. É necessário recolhimento e concentração para isso. Todo o seu mundo interior deve estar voltado para Deus. Não pode haver coisas que lhe tirem a concentração, que o distraiam, que atrapalhem o recolhimento. Estamos em uma comunicação, transmitindo uma mensagem, um pensamento, e esse pensamento tem que ser bem construído, bem formulado, e para isso é preciso atenção, recolhimento.
Prossegue o Cristo: “Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas.” Não é preciso ser uma prece longa, mas é preciso falar, expressar a Deus o que queremos, ou nosso louvor, ou nossa gratidão! Mas é necessário que essa oração tenha a marca dos nossos sentimentos, pois são eles que lhe dão o poder que ela precisa ter.
Então precisamos falar com sentimentos, com sinceridade, colocar para fora aquilo que estamos de fato sentindo, o mundo interior tem que estar sendo expresso pela prece. Por isso a sinceridade, que refletir com humildade o que se tem realmente na alma. É o que se tem na alma que vai dar força à prece, que vai permitir que essa comunicação chegue ao seu destinatário, que é Deus ou os Espíritos superiores. E essa força é dada pelos sentimentos. Se eu estou fingindo, se não estou colocando o coração, se não estou sendo sincero, a oração não sai da alma, ela não tem poder para atingir o objetivo que pretende alcançar.
Kardec esclarece a prece só tem valor pelo pensamento que lhe está conjugado, ou seja, quem ora precisa compreender o que está falando, já que o que não se compreende não pode tocar o coração. Não tem nenhuma utilidade rezar em uma língua que não se entende, por exemplo.
Também não é necessário que repitamos a prece um certo número de vezes, já que não é isso que lhe dá valor. O que interessa é que a pessoa saiba o que está falando, e o faça de coração.
Jesus diz mais: “Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade”. Vimos que são os sentimentos que dão a marca da prece. Se os sentimentos são ruins, de raiva, de mágoa, de ódio, a prece tem essas qualidades, que impedem que chegue a Deus, ou que atinja os bons Espíritos. O que Deus recebe são os sentimentos de alguém que busca equilibrar-se, que busca vencer a raiva, o ódio, a amargura, ou seja, alguém que deseje superar os sentimentos ruins. E um dos principais objetivos da prece é exatamente esse, ajudar o indivíduo a vencer os seus vícios.
A prece a Deus, ou aos Espíritos elevados, solicitando ajuda para vencer paixões ruins tem eficácia extraordinária. Eles nos ajudam imediatamente, porque um dos papéis fundamentais da prece é o equilíbrio emocional de quem ora. Às vezes estamos prestes a cometer um delito às leis divinas, mas pedimos ajuda e Deus nos fortalece, ajudando-nos a não cair naquela tentação. Mas isso não significa que tenhamos vencido definitivamente aquele vício, pois estes são valores da alma que precisam ser substituídos por virtudes, em um processo que exige esforço e vontade.
Continua Jesus: Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Assim, é necessário ter humildade para reconhecer em si os defeitos, os vícios, fugindo do autoengano; e o conhecimento de si é imprescindível para o processo de renovação íntima, de substituição dos vícios pelas virtudes. Como lutar contra aquilo que não se conhece, contra um vício que a pessoa ainda não percebeu que tem? O autoconhecimento é o ponto de partida para a reforma do mundo íntimo, e excelentes recomendações para que se consiga isto são dadas por Santo Agostinho em texto excepcional em “O Livro dos Espíritos”, nos itens 919 e 919a.
E para terminar Jesus fala: “Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau”. Então a prece é sempre um estudo de si mesmo, em um processo de autoconhecimento e de mudança interior, de busca de renovação! Isso faz dela uma importante ferramenta para o estudo de si mesmo, desde que a pessoa se coloque na postura de humildade, daquele que quer aprender, que quer crescer, que quer avançar. Essa postura de humildade vai garantir a eficácia da prece voltada ao autoconhecimento.
Desta forma, a prece que tem essas qualidades terá também grande eficácia.
Final da segunda parte – segue com o tema “Eficácia da prece”.
*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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