P O Mundo dos Espíritos – Parte 3. Erraticidade, Encarnação e Reencarnação.
*Explicação de Cosme Massi no Seminário “O Mundo dos Espíritos”. Transmitido por Allan Kardec TV, em 21 de novembro de 2017.
(Este texto é uma das 10 partes em que foi dividido este Seminário).
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Para responder a questão sobre erraticidade, encarnação e reencarnação, vamos ver novamente nosso esquema dos seis estados possíveis para os Espíritos, retirado de “A Ordem Didática de O Livro dos Espíritos”:
Os Espíritos podem ser encontrados em seis situações:
- A passagem do Espírito do mundo espiritual para o corporal, que é a encarnação;
- A passagem inversa, do mundo corporal para o espiritual, que é a morte, a desencarnação;
- O Espírito vivendo no mundo espiritual, a terceira situação possível, é a situação que nós vamos tratar com mais propriedade. Então não vamos estudar a encarnação, não vamos estudar a morte, vamos estudar a vida no mundo espiritual.
- A vida no mundo corporal;
- O estado de emancipação da alma, em que o encarnado está nos dois lados;
- O estado da intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
É do item 3 que iremos tratar, a vida do Espírito desencarnado no mundo espiritual, após a morte do corpo e antes de reencarnar.
Kardec trata disso no capítulo VI - Vida Espírita, da segunda parte de “O Livro dos Espíritos”, que tem a seguinte estrutura:
Então nós vamos ver como o Espírito vive no mundo espiritual, desencarnado, sem corpo físico. O primeiro item trata dos Espíritos errantes, em que Kardec introduz o conceito de erraticidade. Vejamos esse conceito:
Erraticidade: é um determinado estado da alma, uma certa situação em que se encontra.
Kardec propõe que a alma possa estar em 3 estados: o estado de encarnado, o de errante, e o estado de Espírito puro. Então um Espírito ou está encarnado, ou é Espírito errante ou é um Espírito puro. Daqui já concluímos o que seja o Espírito errante: é todo Espírito desencarnado que não é puro.
Não está encarnado e não é puro, é errante. Só existe uma situação possível do Espírito estar em dois estados ao mesmo tempo: quando um Espírito puro está encarnado: Jesus quando esteve na Terra estava nos dois estados, de Espírito puro e encarnado.
Se o Espírito está encarnado e não é puro, ele é encarnado, não é errante.
Então o errante é aquele que está fora do corpo físico e ainda não se tornou Espírito puro. Ele pode ser um Espírito de terceira ordem, mas também pode ser de segunda ordem. Só não pode ser da primeira, porque aí seria Espírito puro.
Mas Kardec apresenta também outro significado para a palavra errante, sentido utilizado com menor frequência: na “Revista Espírita” ele analisa um texto em que o Espírito George fala que os Espíritos errantes não sabem o que querem, que estão vagando pelo espaço. Kardec explica na errata da 5ª edição de “O Livro dos Espíritos”, de 1861, que o melhor sentido para Espírito errante seria o de errar, andar a esmo, sem destino definido, andar de forma vaga, estar perdido, não saber aonde vai, não saber onde está.
Entre os Espíritos não encarnados, há aqueles que têm missões a cumprir, que se entregam a ocupações ativas, gozando de relativa felicidade. Outros como que flutuam no vazio e na incerteza; são estes os errantes, na acepção própria do termo, constituindo, na realidade, o que se designa pela expressão almas a penar. Os primeiros nem sempre se consideram errantes, porque fazem uma distinção entre sua situação e a dos outros. (1015.) (Este último parágrafo é parte da Errata da 5ª edição, de 1861.)
Nesse segundo sentido, nem todo desencarnado que não é puro é errante. Muitos desencarnados sabem muito bem o que têm que fazer, para onde vão, suas necessidades, não estão perdidos etc. Um Espírito de segunda ordem, nesse sentido dado à palavra, não poderia ser errante.
Existem, então dois sentidos para a palavra errante:
1- O mais utilizado diz que é errante todo desencarnado que não é puro, o que permite entender como Espíritos errantes os desencarnados de todos os graus hierárquicos, menos puro;
2- O sentido menos utilizado é o que entende como sendo os Espíritos que vagam perdidos pelo espaço, sem destino certo.
1015 [1014]. Que se deve entender pela expressão uma alma a penar? “Uma alma errante e sofredora, incerta de seu futuro, e à qual podeis proporcionar o alívio que muitas vezes solicita, vindo comunicar-se convosco.”
Esse segundo sentido faz parecer que existe uma contradição, mas não é assim. É preciso ler o sentido de acordo com o contexto, e então Kardec deixa em aberto o uso dos dois sentidos.
Lembrando que o segundo sentido está na quinta edição de “O Livro dos Espíritos”, nessa errata que Kardec publicou.
Como essa alteração na errata de 1861 não foi incluída nas edições seguintes de “O Livro dos Espíritos”, acabou sendo pouco utilizada e preterida pelo uso da primeira.
Outra coisa que é associada ao estado de errante, é a palavra reencarnação. É outra coisa que gera confusão na literatura. Todo mundo lê reencarnação apenas etimologicamente, em um dicionário: ação de entrar de novo na carne. Literalmente é isso.
Mas esse não é o conceito para Kardec. Para ele reencarnação é a encarnação do Espírito errante. Só os errantes reencarnam.
E quem não é errante, como os Espíritos puros? Ao se referir à vida corporal de um Espírito puro usa-se o termo encarnação, não reencarnação. Ou seja, Espírito puro encarna, não reencarna. Pode parecer que os puros encarnam uma vez e não voltam a encarnar, mas não é isso, eles encarnam e voltam a encarnar muitas vezes em missões divinas, mas essas vidas novas não são chamadas de reencarnações, são ditas encarnações. Assim, dizemos que Jesus encarnou, nunca diremos que Jesus reencarnou. Ah, mas Jesus já encarnou outras vezes! Certamente ele não virou puro do nada, sem reencarnar muitas vezes. Nenhum Espírito chega a puro sem ter reencarnado muitas vezes, mas ao chegar ao estado de puro a palavra reencarnação não se aplica mais a eles. Qualquer vida que ele venha a ter num mundo corporal não será chamada reencarnação, porque ele não é mais errante, e só para os errantes se usa o termo reencarnar. Os puros encarnam. Quando? Quando é necessário encarnar em benefício do mundo em que está encarnando, visto que não é mais a benefício dele. Ele não precisa da encarnação para progredir. Ele só encarna a benefício do planeta, não a benefício de si próprio. Quando se dá isso? Só Deus sabe! Quem somos nós para saber quando um puro deve encarnar.
Então a palavra reencarnação será aplicada aos errantes apenas. Resumindo: os errantes reencarnam; os puros apenas encarnam.
As palavras vão ganhando um sentido para ter uma consistência, por isso que alguns dizem que Kardec afirma que os Espíritos puros não reencarnam em corpos perecíveis, e, portanto, Jesus não teve corpo perecível, só teve corpo fluídico.
Não é nada disso, Kardec diz que Espírito puro não reencarna em corpos perecíveis porque ele só encarna, não tem reencarnação para puros, só tem para os errantes; reencarnar é encarnar para aprender, para progredir, para avançar, não é só encarnar.
Poderíamos adicionar ao dicionário que reencarnar é encarnar de novo em provas e expiações, encarnar de novo para aprender, para progredir! O Espírito puro não aprende mais nada, não progride mais nada, já chegou no estado máximo evolutivo que o Espírito pode alcançar.
Esses são os conceitos de errante, encarnação e reencarnação.