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Por que Kardec não caracteriza a segunda ordem da escala como aquela que apenas faz o bem?
Transcrições

Por que Kardec não caracteriza a segunda ordem da escala como aquela que apenas faz o bem?

Por que Kardec caracteriza a segunda ordem da escala espírita como aquela que apenas deseja o bem, e não como aquela que apenas faz o bem?

Resposta de *Cosme Massi na live O BEM E O MAL — Explicações segundo a obra “A Gênese”. Realizado em colaboração do IDEAK com a Christian Spiritist Community of Atlanta. Transmissão ao vivo em 06 de dezembro de 2020.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro


Porque o bem pode ser feito mesmo enquanto se deseja o mal. Por exemplo: uma pessoa pode estar fazendo o bem em seu trabalho e desejando o mal para seu patrão. Ele está fazendo o bem por interesse no salário, porque está com medo de perder o emprego, tem alguma paixão levando-o a fazer o bem apesar de desejar o mal! Ou um trabalhador na casa espírita que odeia determinado frequentador, mas é obrigado a atendê-lo, entregar-lhe uma cesta básica; ele está fazendo o bem, doando um pouco de seu tempo, mas está fazendo isso com sentimento de raiva daquela pessoa, desejando o seu mal. Podemos seguir as leis divinas por medo do castigo por não as seguir, e não por entender que aquilo é o certo.

Então é muito fácil fazer o bem desejando o mal, mas o contrário não ocorre: quem deseja o bem vai realizar o bem, porque o desejo vai se transformar na vontade, e ele faz o bem.

Assim os Espíritos foram muito claros; o que caracteriza o processo evolutivo é a mudança interior de sentimentos e de desejos, e não as atitudes.

Uma pessoa que tenha apenas bons sentimentos terá apenas bons desejos, já que o desejo é o efeito do sentimento; consequentemente sua vontade, que é o desejo em ação, sendo realizado, será boa também, ou seja, os bons sentimentos causarão boas ações.

É possível ter boas atitudes com sentimentos ruins, pois o indivíduo pode ter em sua alma bons e maus sentimentos, o que vai ter como efeito bons e maus desejos e boas ou más ações. Os maus desejos, oriundos dos maus sentimentos, podem ser contidos pelo interesse em não sofrer consequências, e então não se tornarem más ações. E, no exemplo acima, o indivíduo entrega a cesta a quem odeia por ser sua obrigação naquele momento, naquela situação.

Os Espíritos e Kardec foram muito sábios: escolheram o mundo interior para definir o estado evolutivo, e não o mundo exterior! O que caracteriza um Espírito bom é seu mundo interior apenas com sentimentos e desejos bons, que vão causar apenas boas ações.

Se tivessem dito “fazer o bem” ao invés de “ter apenas desejos bons”, estariam incluindo muita gente na segunda ordem que faz o bem com desejos ruins! E na segunda ordem estão aqueles Espíritos que têm apenas sentimentos, pensamentos, emoções e desejos bons.

Desta forma, o que caracteriza a mudança da terceira ordem, Espíritos imperfeitos, para a segunda ordem, Espíritos bons, é a mudança do mundo interior da criatura, que abandona completamente todas as paixões ruins e passa a cultivar apenas bons sentimentos, bons pensamentos, boas emoções, bons desejos, que são reflexos de suas emoções.

Então nunca mais fará o mal, porque passou a só desejar o bem, e esse desejo o leva a buscar os melhores caminhos, porque é isto o que ele agora deseja: fazer o bem para todos.

Entende-se, então, a importância desse conceito de desejo usado pelos Espíritos e Kardec na construção da escala espírita: “ter apenas desejo do bem” exige a transformação moral do indivíduo, a mudança de paixões em virtudes, e agora esse homem só tem bons sentimentos. Ele faz apenas o bem porque só tem bons desejos em sua alma.

Essa distinção entre o bem e a virtude é essencial. Praticar o bem é apenas o cumprimento da lei. A virtude é mais, é cumprir a lei com desinteresse, com a alma modificada pela presença unicamente de bons desejos.

Por isso os Espíritos colocaram desejo do bem como marca, por significar mudança interior, desenvolvimento de virtude, e não apenas fazer o bem.

— Assista à vídeo-aula n.º 8 de “O Livro dos Espíritos” no KARDEC Play; estude o livro “Os Espíritos e os homens” de Cosme Massi, para entender as paixões humanas.




*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.


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