Biografia de Emanuel Swedenborg
Emanuel Swedenborg
Todo o mundo conhece Swedenborg de nome, mas poucas pessoas sabem realmente o que ele era. Com razão, é visto como um dos principais precursores do espiritismo nos tempos modernos e, a esse título, é glorificado por uns e ridicularizado por outros.
Emanuel Swedenborg nasceu em Estocolmo, em 1688, e morreu em Londres, em 1772, aos 84 anos.
Seu pai, Jœper Swedenborg, bispo de Skava, era notável por seu mérito e por seu saber, mas seu filho o ultrapassou em muito; foi excelente em todas as ciências, sobretudo na teologia, na mecânica, na física e na metalurgia. Sua prudência, sua sabedoria, sua modéstia e sua simplicidade valeram-lhe a alta reputação da qual ele goza ainda hoje.
Os reis o chamaram em seus conselhos. Em 1706, Carlos XII o nomeou assessor no Colégio Metálico de Estocolmo, a rainha Ulrica o enobreceu, e ele ocupou os postos mais honrosos com distinção até 1743, época em que teve sua primeira revelação espírita. Tinha, então, 55 anos de idade e apresentou sua demissão, ao não mais querer ocupar-se senão de seu apostolado.
Suas obras, muito volumosas e em geral muito abstratas, são lidas apenas pelos eruditos; também a maioria dos que delas falam ficaria muito desconcertada em dizer de que elas tratam. Para uns, é um grande homem, objeto de profunda veneração, sem saber muito bem por que; para outros, é um charlatão, um visionário, um taumaturgo.
Como todos os homens que professam ideias que não são aquelas de todo o mundo, quando, sobretudo, essas ideias ferem certos preconceitos, ele teve, e ainda tem, seus contraditores. Se esses últimos se se tivessem limitado a refutá-lo, estariam em seu direito; mas o fanatismo não respeita nada, e as mais nobres qualidades não encontram clemência diante dele: Swedenborg não podia ser exceção.
Sua doutrina, baseada na existência dos Espíritos, em suas comunicações com os homens e nas revelações que recebeu deles, deixa sem dúvida muito a desejar; hoje ele mesmo está longe de aprová-la em todos os pontos. Mas, de todo refutável que ela seja sob certos aspectos, ele não deixa de permanecer como um dos homens mais eminentes de seu século. Foi em Londres, em 1743, como dissemos, que ele teve sua primeira visão. Um Espírito lhe apareceu sob forma humana enquanto ele comia e disse-lhe: “Não coma demais.” Começo um pouco trivial, convenha-se, considerando a qualidade que tinha, pois no dia seguinte ele lhe disse:
“Eu sou Deus, o Senhor criador e redentor; eu te escolhi para explicares aos homens o sentido interior e espiritual da Escritura Sagrada; ditar-te-ei o que deves escrever”.
Desde aquele dia, Swedenborg renunciou a todas as suas ocupações mundanas para trabalhar somente com coisas espirituais e conformar-se à ordem que havia recebido. Um dos pontos fundamentais da doutrina de Swedenborg repousa no que ele chama de as correspondências.
Segundo ele, o mundo espiritual e o mundo natural estando ligados entre si como o interior ao exterior, resulta que as coisas espirituais e as coisas naturais fazem um, por influxo, e que há correspondência entre elas. Eis o princípio; mas o que devemos entender por essa correspondência e esse influxo? É difícil compreender.
"A Terra, diz Swedenborg, corresponde ao homem. Os diversos produtos que servem como alimento para os homens correspondem a diversos tipos de bens e de verdades, a saber: os alimentos sólidos, aos tipos de bens, e os alimentos líquidos, aos tipos de verdades. A casa corresponde à vontade e ao entendimento, que constituem o mental humano. Os alimentos correspondem às verdades ou às falsidades, segundo a substância, a cor e a forma que apresentam. Os animais correspondem às afeições; os que são úteis e dóceis, às afeições boas, e os que são nocivos e maldosos, às afeições más; os pássaros dóceis e belos, às verdades intelectuais; os que são maldosos e feios, às falsidades; os peixes, às ciências que têm sua origem nas coisas sensuais; e os insetos nocivos, às falsidades que provêm dos sentidos. As árvores e os arbustos correspondem a diversos tipos de conhecimentos; as relvas e a grama, a diversas verdades científicas. O ouro corresponde ao bem celeste; a prata, à verdade espiritual; o bronze, ao bem natural, etc., etc. Assim, a partir dos últimos graus da criação até o sol celeste e espiritual, tudo se vincula, tudo se encadeia pelo influxo que produz a correspondência.”
O segundo ponto de sua doutrina é este: Há um só Deus e uma só pessoa, que é Jesus Cristo. O homem, criado livre, segundo Swedenborg, abusou de sua liberdade e de sua razão: caiu; mas sua queda havia sido prevista por Deus; ela devia ter sido seguida por sua reabilitação, pois Deus, que é o próprio amor, não podia deixá-lo no estado em que sua queda o havia mergulhado. Ora, como operar essa reabilitação? Recolocá-lo no estado primitivo teria sido privá-lo do livre-arbítrio e, assim, aniquilá-lo.
Foi conformando-se às leis de sua ordem eterna que ele procedeu à reabilitação do gênero humano. Vem em seguida a teoria muito difusa dos três sóis transpostos por Jeová para aproximar-se de nós e provar que ele é o próprio homem. Swedenborg divide o mundo dos Espíritos em três lugares diferentes: céus, intermediários e infernos, sem, no entanto, atribuir-lhes lugar.
“Após a morte, diz ele, entra-se no mundo dos Espíritos; os santos se dirigem voluntariamente a um dos três céus e os pecadores, a um dos três infernos, de onde jamais sairão.”
Essa doutrina desalentadora aniquila a misericórdia de Deus, pois lhe recusa o poder de perdoar aos pecadores surpresos por uma morte violenta ou acidental. Fazendo justiça ao mérito pessoal de Swedenborg, como cientista e como homem de bem, não podemos constituir-nos defensores de doutrinas que o mais comum bom senso condena.
O que ressalta mais claramente disso, a partir do que conhecemos agora dos fenômenos espíritas, é a existência de um mundo invisível e a possibilidade de nos comunicarmos com ele. Swedenborg gozou de uma faculdade que pareceu ser sobrenatural em seu tempo; é por isso que os admiradores fanáticos o viram como um ser excepcional; em tempos mais remotos, ter-lhe-iam erigido altares; os que não acreditaram nele trataram-no uns de cérebro exaltado, outros de charlatão.
Para nós, era um médium vidente e um psicógrafo intuitivo, como os há aos milhares; faculdade que entra na condição dos fenômenos naturais. Houve um erro, muito perdoável, visto sua inexperiência com as coisas do mundo oculto. Foi o de aceitar cegamente demais tudo o que lhe era dita- do, sem submetê-lo ao controle severo da razão.
Se ele tivesse pesado amadurecidamente o pró e o contra, teria reconhecido os princípios inconciliáveis com uma lógica algo rigorosa. Hoje, ele não teria incorrido no mesmo erro, pois teria tido os meios para julgar e apreciar o valor das comunicações de além-túmulo; teria sabido que é um campo onde nem todas as ervas são boas para colher e que entre umas e outras o bom senso, que não nos foi dado por nada, deve saber fazer escolhas. A qualidade que atribuiu a si o Espírito que se lhe manifestou bastaria para fazê-lo desconfiar, sobretudo considerando a trivialidade de seu início.
O que ele mesmo não fez, agora cabe a nós fazê-lo, tirando de seus escritos apenas o que há de racional; até seus erros devem ser um ensinamento para os médiuns crédulos demais que certos Espíritos buscam fascinar, bajulando sua vaidade ou seus preconceitos com uma linguagem pomposa ou de aparência enganosa. Um pastor sueco chamado Aaron Mathesius, que ficou louco, publicara que Swedenborg, de quem era inimigo declarado, havia se retratado antes de morrer. Tendo o ruído repercutido na Holanda, no outono de 1785, Robert Hindmarsh fez uma pesquisa a esse respeito e demonstrou toda a falsidade da calúnia inventada por Mathesius.
A história de vida de Swedenborg prova que a visão espiritual da qual ele era dotado em nada prejudicava, nele, o exercício de suas faculdades naturais. O elogio a ele, proferido após sua morte na Academia de Ciências de Estocolmo pelo acadêmico Samuel Sadels, mostra o quanto era vasta a sua erudição e se vê, por seus discursos proferidos na Assembléia do Parlamento de 1761, a parte que ele tomava na direção dos assuntos públicos de seu país. A doutrina de Swedenborg fez muitos prosélitos em Londres, na Holanda e até em Paris, onde ela fez nascer a Sociedade da qual falamos no número da Revista Espírita de outubro de 1859, a dos Martinistas, a dos Teósofos, etc.
Se não foi aceita por todos com todas as suas consequências, ela teve sempre como resultado a propagação da crença na possibilidade de comunicação com os seres de além-túmulo, crença muito antiga, como se sabe, mas até hoje escondida do homem comum pelas práticas misteriosas das quais estava rodeada. O mérito incontestável de Swedenborg, seu profundo saber, sua alta reputação de sabedoria foram de grande peso na propagação dessas ideias que hoje se popularizam cada vez mais, justamente por crescerem publicamente, e que, longe de buscar a sombra do mistério, recorrem à razão.
Apesar de seus erros de sistema, Swedenborg não deixa de ser uma dessas grandes figuras cuja lembrança ficará vinculada à história do Espiritismo, do qual ele foi um dos primeiros e mais zelosos promotores.
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