Como Kardec nos ensinou a estudar e a viver o Espiritismo?
Resposta de *Cosme Massi na live “O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo”, transmitida ao vivo em 27 de novembro de 2020.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Quando se estudam as obras de Kardec, que estabeleceram os fundamentos do Espiritismo, percebe-se claramente a preocupação com as leis naturais, aquelas que regulam a vida dos Espíritos e as suas relações com os homens. Para redigir essas leis naturais (que como leis divinas são eternas, são verdadeiras, não precisam e não podem ser atualizadas) era necessário que se usasse uma linguagem ao mesmo tempo clara e profunda, porque essas leis são claras e profundas. E Deus escolheu Allan Kardec para isso.
Allan Kardec tinha grande habilidade como escritor, e, como os princípios fundamentais do Espiritismo foram trazidos por Espíritos superiores, era preciso expressar o pensamento desses Espíritos, tão mais elevado que o nosso. Era preciso compreendê-los, argumentar, questionar e expressar os ensinamentos; e Kardec diz, no item 13 do primeiro capítulo de A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, capítulo chamado “O caráter da Revelação Espírita”, que a doutrina foi construída a quatro mãos: as mãos dos Espíritos, que trouxeram os pontos fundamentais e os princípios, e as mãos dos homens. Sem dúvida alguma, dentre estas destacaram-se as desse homem extraordinário, Allan Kardec, que foi quem melhor soube expressar os pensamentos dos Espíritos superiores, em especial aqueles do Espírito de Verdade, o próprio Cristo.
Allan Kardec usou uma linguagem rica, clara, profunda e precisa, sem ambiguidades, sem metáforas, sem contradições. Encontrar filósofos que não entrem em contradição em seus próprios textos é muito raro, mesmo na história da filosofia, pois normalmente eles acabam propondo algo que entra em contradição com o que já haviam proposto, em obra anterior. Eu até hoje, mergulhando por mais de 40 anos nas obras de Kardec, nunca encontrei uma contradição em suas 22 obras (23, se contarmos o Catálogo Racional).
Allan Kardec teve a habilidade de verter as revelações dos Espíritos superiores para uma linguagem direta, própria do discurso científico-filosófico, precisa, não metafórica, não mística, sem figuras de linguagem.
Fala-se em atualização da doutrina espírita! Mas atualizar o quê, se as leis divinas, base do Espiritismo, são inalteráveis, são eternas? O que está faltando hoje é o estudo da obra de Kardec! É necessário que as pessoas estudem mais, mergulhem nos textos kardequianos com seriedade, seguindo aquela recomendação que ele mesmo colocou na Introdução do Livro dos Espíritos: o estudo sério, que é feito com continuidade, com regularidade e com recolhimento. É nesse estudo contínuo que se vai formando a sequência das ideias: uma ideia se liga a outra ideia, que se liga a outra ideia, esta é a continuidade que precisamos construir.
Há pessoas que abrem livros ao acaso, leem um pedacinho, fecham e já vão ler pedaços de outro! Não se pode conquistar e organizar com clareza os fundamentos da doutrina se não for dada essa continuidade na lógica dos conceitos, que estão em suas obras.
Assim, são fundamentais a regularidade e a continuidade. A regularidade implica em estudar constantemente, diz respeito ao tempo; a continuidade diz respeito à epistemologia: diz respeito ao conhecimento, à forma de aprender, à forma de estudar. Ter continuidade é fundamental para se aprender a doutrina, pois é preciso entender os contextos em que os princípios, fundamentos e ideias foram colocados.
Mas, isso tem sido esquecido. Há pessoas que retiram frases do contexto e formam um entendimento equivocado sobre o assunto, não se preocupam em entender como aquela ideia está contextualizada nos princípios e fundamentos da doutrina. Leem um pensamento descontextualizado, e acham que entenderam a obra toda! Retirar frases do texto e do contexto provocará leituras equivocadas, seja qual for o autor. Então é necessário estudar com todo o cuidado de se ater fundamentalmente à precisão da linguagem de Kardec.
Para citar um exemplo simples, que temos acompanhado, há pessoas que comparam uma edição de uma obra com outra edição, como tem sido feito com a quarta e a quinta edições de A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Pegam uma frase e dizem que Kardec não teria mudado, porque isso e aquilo. Mas quando vamos verificar descobrimos que é a pessoa que está lendo mal; houve melhoria do texto, que ficou mais claro, e a ideia está mais bem transmitida. A pessoa não conhece bem o proceder de Kardec em sua obra, toma para si a tese de que houve adulteração e vai buscar o argumento na leitura; ela parte da convicção de houve adulteração para tentar encontrar o argumento nas comparações.
Sempre que comentamos essas comparações no nosso grupo de estudos eu mostro que devemos fazer o contrário: “Gente, foi Kardec quem fez, então vamos ver porque ele mudou, ver se não ficou melhor.” E aí a gente consegue descobrir por que ele fez a mudança, perceber que melhorou, que o propósito da mudança era o aperfeiçoamento do texto, procedimento natural em um grande escritor.
Está faltando o nosso empenho em nos debruçarmos sobre as obras em um estudo sério. Mas não se trata de estudar somente pelo estudar. O Espiritismo é uma doutrina científico-filosófica com consequências morais, e essas consequências morais são as mais importantes. Kardec diz algo que eu gosto muito de citar, diz na Revista espírita, quando ele responde a uma carta dos espíritas lioneses; ele diz que aqueles que querem ser os que mais entendem têm primeiro que mostrar maior prática da caridade!
Além disso, ele diz outra frase muito interessante: "Os erros de espírito pesam sempre menos na balança de Deus do que os erros do coração". O erro de espírito é aquele decorrente de uma leitura errada, de uma interpretação equivocada, e isso pesa menos que o erro de coração, que é a falta da caridade e de compreensão para com o outro que leu mal, que se equivocou. Mas se ao invés de compreendê-lo há agressão e ofensas, se gera violência e agressividade, o indivíduo está cometendo um erro muito maior, que é o erro de coração, o que é faltar com a caridade.
E Kardec afirma que se houvessem divergências entre pessoas, entre grupos, ele ficaria com aquele que mais caridade demonstrasse! Olha a sabedoria! Às vezes, dada a leitura, a fragilidade de conhecimentos, a falta de domínio da obra como um todo, a pessoa pode ter uma interpretação equivocada, e isso é natural em uma obra tão profunda e tão rica como é a obra do Espiritismo fundamental, as 23 obras de Kardec. É natural que às vezes se cometa um equívoco de interpretação, mas o que nunca pode ocorrer é a falta de caridade, criar brigas, dissensões entre pessoas, entre grupos, tudo equivocadamente, porque o objetivo é tentar ajudar o outro a compreender melhor a doutrina espírita. Aí está a caridade.
E para citar um exemplo pessoal, eu achava, há muitos anos, que existia um erro na resposta dos Espíritos à pergunta n.º 228 de “O Livro dos Espíritos”, e demorei 6 anos para descobrir que o problema era meu, que era a minha leitura que estava equivocada. Era uma questão sobre paixões, então procurei conhecer melhor o tema e fui estudar os grandes pensadores sobre o assunto; e aí caiu a ficha: era a minha ignorância sobre a temática que não me permitia compreender a profundidade da resposta, e eu achava que tinha uma falha, um erro dos Espíritos.
Então é muito importante levarmos mais a sério o estudo das obras de Kardec, estudar com dedicação, com afinco, e evitar discussões inúteis, brigas, rixas, em que acaba havendo falta de caridade, o que não é o propósito do Espiritismo. A lei fundamental da doutrina é a caridade, e nós seremos julgados não pelo conhecimento que tenhamos adquirido, mas pela prática da virtude, e a excelência da virtude é a caridade.
Tomemos todo o cuidado, nesses momentos que estamos vivendo, de estudar a obra com humildade, sabendo das nossas limitações, buscando aprender, e, acima de tudo, respeitando o outro, para que se crie um ambiente de verdadeira fraternidade, que é o que se espera dos verdadeiros Espíritas.
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*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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