Resposta de *Cosme Massi na live “Como ser uma pessoa virtuosa em um mundo como a Terra?”, transmitida ao vivo em 06/09/2021, no Enconself 2021; realização da Sociedade Espírita Laços Fraternos e transmissão da Rádio Espírita do Paraná.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.

“Devemos nos afastar das pessoas que nos levam a sentimentos ruins?”

Não há uma lógica única para isso, depende de cada um. É claro que um afastamento temporário pode ser útil, quando não se consegue, naquele momento, se controlar. Então, às vezes, essa estratégia pode funcionar. Mas o afastamento não vai resolver o problema, pois a pessoa pode se afastar e a mágoa continuar; não vê as redes sociais, mas continua com a inveja.

Pode ser útil, sim, evitar aquela tentação durante um tempo, isso pode ser um elemento auxiliar durante um curto período, para que se consiga se munir de forças e recursos para enfrentar o real problema, que é ter um vício moral: magoar-se, não perdoar de coração.

Se o indivíduo não juntar forças, enfrentar e resolver de uma vez por todas, as tentações vão surgir em outros contextos. Não se consegue desaparecer com o Espírito, fugir das pessoas e do mundo.

Vamos viver no mundo e com as pessoas, é inevitável! Alerta o apóstolo Paulo que podemos ser nós os deflagradores dessa relação de mágoa, iniciando esses sentimentos ruins. Então, a convivência com aquelas pessoas de quem guardamos a mágoa, cedo ou tarde, obrigatoriamente acontecerá, pois não avançaremos enquanto não aprendermos a perdoar. Conviver com quem temos mágoa é fundamental para esse aprendizado.

Então afastar-se de quem se tem mágoa não pode ser regra, às vezes é necessário dar um pequeno tempo: “olha, vou diminuir um pouco a relação, vou diminuir a intensidade da convivência”, mas entendendo nesse afastamento um auxiliar por um curto período de tempo, e não esquecendo a necessidade de vencer essa emoção ruim.

A melhor estratégia é a de combater, enfrentar mesmo. Quando se está junto com a pessoa, encher a boca de água para não falar coisa ruim, entrar em prece, pedir ao anjo guardião que corte a sua língua.

Existem estratégias, mas precisamos ter vontade e o apoio do anjo guardião para fechar a boca, para contar até 10 — “Meu amigo espiritual, me ajude que eu não estou aguentando, eu vou falar”; e com a ajuda do protetor espiritual acaba não falando, segura, aguenta! E vai praticando o bem. Tendo-se uma chance, como quando alguém está falando mal dessa pessoa, por exemplo, aproveita-se para falar o bem, elogiar, destacar o lado bom, porque todo ser humano tem algo bom.

E quando estiverem falando bem daquela pessoa, aproveite e fale bem também, destaque algo bom da pessoa nesse momento; esse esforço de segurar e fazer o contrário ao mesmo tempo. À medida em que se vai fazendo isso, vai-se vencendo o vício.

Assim, o afastamento puro e simples só vai adiar o problema, não vai resolver, embora possa ser estrategicamente utilizado em momentos críticos.

Isso pode ser utilizado para qualquer vício, mágoa, ciúme, inveja, raiva, qualquer que seja, mas a fuga não vai resolver, e deve ser usada em curtos momentos nos diferentes contextos das diferentes pessoas.

— Assista também o vídeo “Bem-aventurados os Misericordiosos” do canal Cosme Massi no YouTube!

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo X — Bem-aventurados os que são misericordiosos

15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se, descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fostes quem atirou o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra injuriosa, se não procedestes com toda a moderação necessária?

[…]

Mas, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdoo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdôo” e acrescentam: “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida.” Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não; o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras.

Paulo, apóstolo.
Lião,1861.

*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.

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