A inveja é um vício grave?

Resposta de *Cosme Massi na live “Como ser uma pessoa virtuosa em um mundo como a Terra?”, transmitida ao vivo em 06/09/2021, no Enconself 2021; realização da Sociedade Espírita Laços Fraternos e transmissão da Rádio Espírita do Paraná.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.

Alguns vícios são gravíssimos e precisam ser combatidos. Durante nosso encontro citamos um deles, que é um dos mais perniciosos para a vida em sociedade: a inveja.

Se olharmos a vida social, em todas as épocas da humanidade, nós vamos ver que a inveja, das "filhas do orgulho e do egoísmo", é a pior de todas. Ela tem sido a causa de grandes conflitos, e é o maior de todos os desastres, seja na vida social familiar, seja na pública, ou na vida política.

Não é à toa que ao longo de toda a história da filosofia ela foi colocada como um dos pecados capitais.

Esse vício terrível estraga a convivência, atrapalha a vida, e faz perder um tempo enorme com a vida alheia. O invejoso quer saber tudo da vida daquela pessoa de quem tem inveja, então ela vai atrás para saber, perdendo tempo em sua vida. E hoje, com as redes sociais, é difícil a pessoa resistir; ela entra nas redes e quer acompanhar tudo que a outra faz. O sucesso da outra a incomoda, e ela perde tempo dando alimento a esse vício tão terrível.

Então, a inveja é uma das paixões que temos mesmo que combater.

O outro elemento são aquelas virtudes que estão na base de todas as virtudes, que os gregos chamavam de virtudes cardeais: a prudência, a coragem, a justiça e a temperança. Precisamos, então, ir trabalhando nosso mundo interior, desenvolvendo essas virtudes, mas eu não destacaria uma ou outra virtude como a mais importante.

Já os vícios, sim, pois são eles que nos perturbam. E a inveja é um dos principais deles. Sendo filha do egoísmo e do orgulho, ao se combater a inveja já se está combatendo o egoísmo, que tem em seu fundo o interesse pessoal, e, também, a valorização da própria personalidade, que é a essência do orgulho. Então a inveja é uma mistura de egoísmo e orgulho, e, ao combatê-la, combatem-se esses dois vícios.

Com a internet e as redes sociais, esse vício moral ganhou condições extraordinárias. As redes sociais permitem que as pessoas se coloquem de uma forma tão especial, tão felizes e tranquilas, que isso gera e fomenta a inveja nos outros. E se vê de maneira escancarada na sociedade as dificuldades devidas a esse vício moral.

Mas as pessoas têm muita dificuldade para admitir que têm inveja. Como esse vício tem esses dois componentes fortes, o orgulho e o egoísmo, e o orgulho faz com que o indivíduo não se enxergue como ele realmente é, supervalorizando a sua personalidade, e a marca do egoísmo é o interesse pessoal, fica difícil aceitar que se tem esse vício.

Assim, ficamos dando justificativas para nossas ações com inveja, e não se aceita com facilidade ser chamado de invejoso; feito isso, a situação normalmente fica ruim: a pessoa se ofende, fica chateada, aborrecida, a inveja é muito forte. E ela é a causa de muitos dos problemas sociais em todas as épocas da humanidade. Ela é a fonte de conflitos, de guerras, de lutas, de competição desenfreada, desrespeitosa, desonesta, as pessoas não colaboram entre si, elas competem, alimentadas por esse vício.

Sempre incentiva-se sair na frente, o desejo de ser o primeiro. O próprio esporte propicia isso: em vez de estimular a competição salutar, estimula muito a competição para ser o primeiro, para ser o melhor, superar o outro, e não superar a si próprio.

Todas as nossas instituições sociais estimulam a inveja, o tempo todo. As atividades sociais, as redes sociais, em todo lugar da sociedade a inveja é estimulada o tempo inteiro. É muito difícil!

E Kardec afirma que a própria atividade social fomenta esses vícios morais, porque eles são alimentados pela própria convivência humana. Nós sempre estamos querendo ser melhores que o outro, passar por cima do outro, levar vantagens de qualquer forma, ter mais que o outro.

Então a inveja é um componente chave com que temos que nos preocupar, porque ela é a causa de muitos conflitos na vida social, familiar, entre as nações, na interação política entre os homens, é um vício terrível.

Estude também a Aula 145 de “O Livro dos Espíritos”: Felicidade e infelicidade relativas — Parte 2 no KardecPlay.

O Livro dos Espíritos > Parte quarta — Das esperanças e consolações > Capítulo I — Das penas e gozos terrestres — Questão 933

A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável? Não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se lhe a Terra verdadeiro inferno?”

Parte do comentário de Kardec na questão 933:

Muitas expressões pintam energicamente o efeito de certas paixões. Diz-se: “inchado de orgulho”, “morrer de inveja”, “secar de ciúme” ou “de despeito”, “não comer nem beber de ciúmes”, etc. Esse quadro é sumamente real. Acontece até não ter a inveja objeto determinado. Há pessoas invejosas, por natureza, de tudo o que se eleva, de tudo o que sai do comum, embora nenhum interesse direto tenham, mas unicamente porque não podem conseguir outro tanto. Ofusca-as tudo o que lhes parece estar acima do horizonte e, se constituíssem maioria na sociedade, trabalhariam para reduzir tudo ao nível em que se acham. É a inveja aliada à mediocridade.

*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.

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