Resposta de *Cosme Massi na live "Jesus e Kardec: o Mestre e o Discípulo". Live no Centro Espírita Irmã Rosa em 29/11/2020.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.

Quando Kardec elaborou a escala espírita, ele estabeleceu que os Espíritos puros ou perfeitos constituem uma classe única, por uma razão muito simples: o que caracteriza o Espírito puro ou perfeito é a superioridade intelectual e moral absoluta, e ter alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura. Espírito puro é aquele que atingiu o topo do processo evolutivo, que conhece a verdade e que vive integralmente a lei de Deus.

Como diferenciar um Espírito puro do outro? Como dizer que um é mais evoluído que o outro, se todos atingiram a soma da perfeição possível de ser alcançada? Se todos eles conhecem a verdade e vivem integralmente a lei de Deus, como se distinguiria um do outro hierarquicamente? Por conhecer mais a verdade? Não faz sentido; estamos falando da verdade, eles vivem essa verdade. A nossa capacidade humana é não conseguiria entender. Não faz o menor sentido querer classificá-los.

A própria classificação que Kardec propõe impede que a nossa razão seja capaz de estabelecer hierarquias entre os Espíritos puros, por isso Allan Kardec considerou uma classe única.

Alguns querem estabelecer uma hierarquia com base em atividades, ou funções, e argumentam: “Talvez um Espírito puro dirija um planeta, outro mais puro ainda dirija dois, três, e outro, uma constelação.” Mas isso não tem nada a ver com grau evolutivo da escala espírita proposta por Kardec, que se baseou na evolução moral e intelectual dos Espíritos! Dirigir um, dois, mil planetas é atividade, é função, não tem nada a ver com a evolução moral e intelectual adotada na escala.

Mas os problemas para se fazer esse tipo de classificação utilizando atividades e funções são muito maiores, visto que, por exemplo, poderíamos perguntar: tem peso diferente na classificação dirigir um planeta de provas e expiações, ou um de regeneração, ou dirigir um ditoso? Como não existem dois mundos idênticos, teríamos para cada mundo um nível de classificação? Não faz o menor sentido, seríamos incapazes de classificar os Espíritos por atividade, dado o número infinito de atividades! É lógico que não se consiga estabelecer uma classificação de hierarquia por atividade. Isso foge às possibilidades da nossa razão.

Assim, essa tentativa de classificar os Espíritos puros contém um grave erro de lógica: não se consegue estabelecer uma classificação de hierarquia evolutiva por atividade, dado serem infinitos os tipos de atividades, ou seja, o número de variáveis é infinito. Nessas condições, não se poderia estabelecer uma classificação por grau evolutivo, que é o critério que a escala espírita adota.

Allan Kardec, dominando a lógica, sabia que ao considerar como Espíritos puros ou perfeitos aqueles que têm conhecimento pleno da verdade, e que vivem a lei de Deus na sua plenitude, não poderia classificá-los em categorias, não poderia afirmar que existissem mais evoluídos e menos evoluídos. A nossa razão é incapaz de estabelecer essas categorias, por isso ele os colocou como classe única. Todos são Espíritos puros ou perfeitos, desempenhem as atividades que tiverem que desempenhar no universo, das mais simples às mais complexas; eles atingiram, todos eles, o estado de Espírito perfeito previsto na escala espírita.

Por isso tudo, Allan Kardec não dividiu a ordem dos Espíritos puros em diferentes classes, e aqueles que citam passagens da Revista espírita que poderiam dar a entender o contrário, precisam olhar o sentido figurado que ali está.

Kardec estava tão convicto dessa classe única, que afirma que arcanjos, serafins e anjos, que são classificados em hierarquias dentro das teologias tradicionais, no Espiritismo são todos Espíritos perfeitos, nenhum superior a outro.

Por isso Allan Kardec não fez esse tipo de classificação, e pode estar havendo interpretações forçadas de passagens da Revista; é perfeitamente possível fazer a leitura, em toda a obra de Kardec, de que não se pode estabelecer uma classificação entre os Espíritos puros.

*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.

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