Existe obra alterada, ou adulterada, após a morte de Kardec?
*Resposta de Cosme Massi na live “Espiritismo ontem e hoje: O céu e o inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo”. Transmitida em 27 de novembro de 2020.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Está claro que aquelas obras não foram adulteradas, elas foram alteradas pelo próprio autor, então não houve adulteração. Promover alterações é prática muito comum para os autores, os grandes autores fazem ajustes nos seus textos, aperfeiçoando-os.
Kardec faz um relato muito interessante na Revista espírita de dezembro de 1868 sobre cismas, na “Constituição Transitória do Espiritismo”. Para evitar os cismas, que seriam divisões, interpretações equivocadas, afirma Kardec que procederia de maneira que os seus escritos não deixassem espaço para nenhuma interpretação contraditória, que se esforçaria sempre para isso. Oras, para se evitar interpretações contraditórias é necessário e natural que, ao se perceber tal possibilidade, se façam ajustes nele; ou, à medida em que se medita um pouco mais sobre o assunto, que novas informações surjam, que se perceba que determinada frase ficará melhor se for modificada, pois poderia levar o leitor a uma interpretação indesejada, é óbvio que o autor faça as alterações que julgar pertinentes.
Kardec fez ajustes em todas as suas obras. Alguns ajustes foram complementações, acréscimo de conteúdo, como aconteceu com o Livro dos Espíritos da primeira para a segunda edição, quando Kardec duplicou o tamanho da obra.
Quanto a adulterações na quarta edição de O Céu e o Inferno, que é o assunto que estamos tratando, lembramos que estudos históricos recentes do “CSI”, do “Allan Kardec.online” e de várias outras pessoas, demonstraram que a quarta edição de O Céu e o Inferno foi publicada em fevereiro de 1869, antes da sua morte em 31 de março de 1869. E mais ainda, em Catálogo racional que foi descoberto recentemente, publicado por Kardec em março de 1869, e anexado na Revista espírita de abril daquele ano, portanto deixado pronto por Kardec antes de morrer. Ele faz referência à quarta edição de O Céu e o Inferno. Foi Kardec quem preparou a quarta edição. As alterações foram feitas pelo autor da obra, não existe adulteração.
E quando se compara a terceira edição de 1865 e a quarta, não há mudanças no sentido de grandes acréscimos, ou que alterassem radicalmente o que estava na terceira edição. Não, em vários lugares ele faz ajustes de frases no texto e acrescenta mais um caso de Espírito feliz; quando se comparam os índices das duas edições vê-se que não houve mudanças.
Já na segunda edição dessa obra, ele fizera um ajuste formal importantíssimo, que para nós que criamos a Kardecpédia foi fundamental: Kardec passou a numerar os parágrafos. Na primeira edição ele numerava o capítulo inteiro, então não tinha como se referir a um parágrafo dentro de um capítulo, ficava difícil! Se o capítulo fosse longo, era necessário olhá-lo inteiro. A partir da segunda edição ele utiliza o mesmo sistema de numeração que já usara em O Evangelho Segundo o Espiritismo, numerando os parágrafos dentro dos capítulos.
Os ajustes realizados por Kardec visavam a não dar espaço para leituras equivocadas; isso ele fez o tempo inteiro em suas obras. Kardec deixa patente o seu esforço para evitar que as obras do Espiritismo gerassem diferentes interpretações, e deixa claro querer que elas fossem lidas como ele desejara ao escrever, sem criar cismas por conta de interpretações.
É muito natural essa prática de fazer alterações que melhorem as obras, e Kardec o fez nas suas. Fez em O Céu e o Inferno, como fez em A Gênese, sempre aperfeiçoando os textos para que pudéssemos interpretar melhor o seu pensamento e o dos Espíritos que atuaram com ele na elaboração dessas obras.
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