Felicidade verdadeira: o que ela é e como conquistá-la?
Resposta de *Cosme Massi na live “AS LEIS NATURAIS E A VERDADEIRA PROPRIEDADE”, Programa Tripulantes da Luz, FEES TV — Federação Espírita do Estado de Sergipe. Transmitido ao vivo em 8 de novembro de 2020.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Primeiro é preciso lembrar que a felicidade é considerada, desde Aristóteles, o maior de todos os bens. Todos nós a buscamos, e tudo que o homem faz tem por objetivo fazê-lo feliz.
Aristóteles usa inclusive esta expressão: "a felicidade é o bem supremo". Todos desejam e objetivam a felicidade. Se perguntarmos a uma pessoa por que ela quer ser feliz, ela dirá: “Ora, quero ser feliz para ser feliz!”, ou seja, a felicidade é o bem último, ninguém deseja além da felicidade.
Só que muitas vezes nós temos um entendimento de felicidade muito apoiada na visão materialista, que reduz o homem ao seu corpo físico. No materialismo, quem pensa é o corpo: morre o corpo, morre o homem, morrem seus pensamentos, seus sentimentos, seus desejos. Na visão materialista, tudo isso é do corpo.
Quando se adota essa forma materialista de pensar, é claro que a felicidade se reduz aos prazeres do corpo, às alegrias corporais, porque se o indivíduo se acha apenas um corpo, a felicidade tem que ser aquilo que faz bem a esse corpo, que lhe agrade, que lhe dê prazer e alegria.
Com o Espiritismo nós descobrimos algo muito diferente. Descobrimos que nós somos uma alma imortal. O corpo é apenas um instrumento, um meio, não é um fim. Ora, quando a vida da alma é o mais importante, é a ela que devemos nos atentar, à sua felicidade. A vida da alma é muito mais longa do que a vida no corpo. Nós passamos 50, 60 ou 100 anos no mundo corporal, e depois centenas de anos no mundo espiritual. E chegará um momento a partir do qual não precisaremos mais da vida corporal, e nossa vida só ocorrerá no mundo espiritual. A vida em corpos grosseiros é temporária, só ocorre até que tenhamos atingido a elevação espiritual necessária para nos libertarmos da matéria.
Então a verdadeira existência está na existência da alma, na chamada erraticidade, no mundo espiritual. Devemos buscar a felicidade momentânea ou a eterna?
Ora, se a verdadeira vida é a espiritual, fora do corpo físico, a felicidade muda de conceito. A felicidade deixa de ser aquilo que simplesmente torna o corpo alegre, e passa a ser aquilo que engrandece a alma; daí nasce, em O Livros Espíritos, o conceito de verdadeira felicidade.
Qual é, então, a verdadeira felicidade? É aquela que consiste em fazer que a alma viva cada vez melhor, que ela conquiste os patrimônios da alma.
E quais são os patrimônios da alma? São os patrimônios intelecto-morais. São o conhecimento, a inteligência, os sentimentos, o bem que ela faça, as virtudes que ela adquira. As virtudes são os maiores bens da alma, e elas a tornam feliz. Então o homem só vai conquistar a verdadeira felicidade se ele seguir as leis morais que orientam a sua conduta para uma vida feliz como alma, e não apenas uma vida feliz como corpo. Vejamos o que explicam os Espíritos em “O Livro dos Espíritos”:
614. Que se deve entender por lei natural?
“A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer, e ele só é infeliz quando dela se afasta.”
É claro que uma vida feliz, como alma, não exclui a felicidade com o corpo, não é isso! Não se trata de esquecer o corpo, não se trata de fazer o corpo sofrer, mas é colocar o corpo em sua verdadeira função, apenas um instrumento necessário para a busca dos valores da alma. Com a visão espírita, mudamos a forma de ver a vida no corpo, ela deixa de ser um objetivo, um fim, e passa a ser um meio.
Vamos usar o corpo, desfrutando, obviamente, dos prazeres naturais que ele oferece, mas sem abuso, sem fazer desses prazeres a essência da vida, o bem último, a felicidade última, a razão de ser. Esses prazeres fazem parte, mas eles não são o mais importante, o mais importante são as alegrias da alma, as conquistas da alma.
Quando isso acontece, quando o indivíduo entende que é uma alma e não um corpo, que a verdadeira vida é a espiritual e não a material, ele passa a ter mais cuidado, vai viver sem abusar daquilo que o corpo lhe oferece, buscando conquistar os valores eternos.
Atente-se para a importância das leis morais no conceito de felicidade que o Espiritismo nos traz. Kardec e os Espíritos, na terceira parte de O Livro dos Espíritos, nos dão orientação de como viver para ir conquistando essa verdadeira felicidade dia a dia.
A felicidade é uma conquista diária, em que o indivíduo vai vivendo, aprendendo, sendo útil, convivendo da melhor forma possível, servindo, praticando a caridade, amando as pessoas, de modo que ela vai se tornando feliz naturalmente. A felicidade vai se instalando na forma de uma consciência tranquila, pela ausência de queixas a seu respeito. Por não fazer o mal e praticar o bem, vai surgindo uma alegria espontânea e permanente, própria de quem segue a lei de Deus e está fazendo o melhor possível.
Então, existe uma relação estreita entre as leis morais e a verdadeira felicidade!
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*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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