
Por que há discordâncias a respeito de o Espiritismo ser uma religião?
Explicação de *Cosme Massi na palestra “Por que estudar Obras Fundamentais do Espiritismo?”, com a Federação Espírita do Maranhão, em agosto de 2018.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
A palavra religião pode ser usada no sentido filosófico do termo ou no sentido teológico ou dogmático. Kardec discute isso em artigo da Revista espírita de dezembro de 1868, ao responder à indagação “É o Espiritismo uma Religião?”
Primeiro vamos entender que as palavras têm muitos sentidos, ou seja, são polissêmicas. Eu estou falando, estou usando palavras: quais os significados que vocês estão atribuindo a essas palavras? O significado dominante, aquele que mais frequentemente se emprega. Ninguém está consultando um dicionário e, a cada palavra que eu falo, vendo todos os possíveis sentidos, para escolher um dos dez ou vinte significados possíveis. Não, automaticamente vocês interpretam com um significado, que é o significado dominante. As palavras têm vários significados, mas existe um que é dominante, e é esse que naturalmente as pessoas usam quando ouvem ou falam.
Kardec mostra que a palavra religião tem muitos significados, e que o seu significado dominante não se aplica ao Espiritismo.
Qual é o sentido dominante da palavra religião? A existência de sacerdotes, de dogmas, de práticas exteriores de adoração e cultos, rituais, e uma imensidade de outras práticas. Como as religiões predominantes têm tudo isso, quando se fala religião automaticamente se pensa nessas coisas!
Então, se falarmos que o Espiritismo é uma religião, as pessoas vão querer saber quais são os rituais: como é o batizado espírita, o casamento espírita, como é que se adora a Deus, de joelho, sentado, em pé, acendendo velas, as pessoas iriam perguntar tudo isso, e a doutrina não tem nada disso. Então Kardec não usou a palavra “religião” porque o Espiritismo não atende ao significado dominante desta palavra.
Mas se utilizarmos em outro sentido, no sentido filosófico do termo, nos referindo à ligação do homem com Deus, à ligação dos homens entre si por um laço de amor e de caridade, então tudo bem, podemos entender o Espiritismo como uma religião, sem nenhum problema. Então não há nenhum problema em se dizer que o Espiritismo é uma religião, desde que se faça essa ressalva, que é no sentido filosófico de religião.
Resumindo, o Espiritismo só é uma religião no sentido filosófico da palavra, já que fala de Deus, dos laços de caridade e de amor que nos une, porque tem ensinamentos morais, porque fala das penas e recompensas da vida futura, porque fala da vida futura. É preciso deixar claro que não é uma religião no sentido dominante da palavra.
Mas também há restrições em relação a ser uma “filosofia”. Se dissermos na academia que Espiritismo é filosofia, eles vão dizer “Não, não é filosofia!”. Porque eles vão usar a palavra filosofia no sentido de sistema filosófico, e aí não é. Mas se disser que é a filosofia de uma ciência, eles passam a aceitar.
Então, mesmo quando digo que é filosofia, devo fazer a ressalva, que não é no sentido mais usado, naquele dominante na Academia. É filosofia em um sentido muito moderno e especial, que é algo inclusive próprio do século XX, que é a noção de filosofia de uma ciência. Não é filosofia como um sistema filosófico.
Então não há qualquer problema em dizer que é uma ciência, uma filosofia e uma religião, desde que se coloquem as ressalvas pertinentes.
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*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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