Jesus, o Espírito de Verdade, era um Espírito puro?

Transcrição de trecho da palestra “O Espírito de Verdade”, de *Cosme Massi, realizada em 16 de abril de 2016 no Centro Espírita Joanna de Ângelis. Disponível no canal CEJA BARRA no YouTube.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.

Kardec era um Espírito bom da escala espírita, de segunda classe, ou seja, era um Espírito superior. A escala espírita tem três ordens, que abrigam dez níveis, ou dez classes, numeradas de um a dez.

A classe n.º 1 forma a primeira ordem e abriga os Espíritos puros, como Jesus. A n.º 10 abriga os Espíritos impuros, os mais atrasados de todos.

As classes décima até a sexta, ou seja, 10.ª, 9.ª, 8.ª, 7.ª e 6.ª formam a ordem dos Espíritos imperfeitos. Nós estamos entre eles.

Os Espíritos puros estão na classe n.º 1; depois, da classe n.º 2 até a 5, estão os Espíritos bons.

Temos então a ordem dos Espíritos imperfeitos (terceira ordem), a ordem dos Espíritos bons (segunda ordem) e a ordem dos Espíritos puros (primeira ordem).

Kardec certamente estava na segunda ordem da escala espírita, e nessa ordem ocupava a segunda classe, ou seja, era um Espírito superior, estava a um passo de Espírito puro.

Espírito superior, segundo Kardec, é o n.º 2 nessa hierarquia de 1 a 10. Jesus é do n.º 1, Espírito puro ou perfeito.

Recentemente falei que Jesus é Espírito puro e recebi um e-mail de uma pessoa que estava muito brava, dizendo que Kardec afirmou em alguns lugares que Jesus é somente um Espírito elevado, somente um Espírito superior.

E diz, mesmo; mas a pessoa não estudou a nomenclatura utilizada por Kardec. Ele utiliza duas nomenclaturas, uma que é da escala espírita que está no item 100 de O Livro dos Espíritos, e tem três ordens (imperfeitos, bons e puros), e a outra é uma classificação binária, que utiliza duas grandes categorias, a dos Espíritos inferiores e a dos Espíritos elevados ou superiores.

Nessa classificação binária, os elevados (ou superiores) são os bons e os puros, enquanto os inferiores são os imperfeitos da escala espírita.

Em decorrência disso, podemos fazer a seguinte inferência: os Espíritos elevados (ou superiores) são os Espíritos bons e os puros da escala espírita, enquanto os Espíritos inferiores são os imperfeitos da escala.

A primeira ordem e a segunda ordem da escala espírita formam a ordem elevada da classificação binária, onde estão os Espíritos “elevados“ ou “superiores” — que são sinônimos.

É importante perceber que ao nos referirmos aos Espíritos elevados estamos excluindo totalmente os Espíritos imperfeitos, que são os inferiores da classificação binária.

Kardec usa essas duas escalas, e sempre deixa claro a que está se referindo: elevados ou superiores da classificação binária correspondem aos bons e puros da classificação ternária, e inferiores da classificação binária correspondem aos imperfeitos da classificação ternária.

Então, quando se diz que Jesus era um Espírito elevado, não tem nenhum problema, porque sendo Espírito puro da escala espírita, Jesus é Espírito elevado (ou superior) na escala binária.

Mas para evitar dúvidas, temos um texto de Kardec em que ele diz textualmente que Jesus é um Espírito puro. Não é Kardec dizendo que Jesus é elevado, é ele dizendo que Jesus é um Espírito puro.

Vejamos esse texto:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV — Os milagres do Evangelho > Superioridade da natureza de Jesus

“2. Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre.

“Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.

“Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres (cap. XIV, n.º 9). Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente indispensáveis.”

Vejam a frase — “Como homem, tinha a organização dos seres carnais”. Isso é importante, afirma que Jesus teve um corpo carnal, como o nosso.

E Kardec prossegue: “Porém, como Espírito puro, — é Kardec dizendo, não estamos inferindo nada — desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível.” Um Espírito puro não tem nenhuma fraqueza humana. Então, para Kardec não se pode ler os Evangelhos do Novo Testamento e interpretar a paixão de Jesus como um fato, pois não faz nenhum sentido falar de paixão de Jesus.

Jesus não tinha nenhuma emoção chamada “paixão”. Os Espíritos bons já não têm as paixões chamadas ruins, nem a inveja, nem o ciúme, nem a raiva, nem a tristeza. Os puros não têm nem as paixões boas.

“Paixão” é a emoção que decorre da influência da matéria. O primeiro a perceber isso foi René Descartes em uma obra admirável chamada “Paixões da Alma”, em que ele demonstra que as emoções podem ser divididas em dois grandes grupos: aquelas que não dependem da influência da matéria, que são as emoções puras, e as emoções que decorrem da influência da matéria, essas as chamadas paixões.

Os Espíritos puros têm emoções superiores que não decorrem da influência da matéria. Então a alegria de um Espírito puro não é igual à nossa alegria, pois a nossa ainda depende da influência da matéria. Nós estamos longe de ter emoção similar à de um Espírito puro. As nossas emoções ainda têm a marca da influência material. Então o amor do Cristo é um amor que a gente não consegue sentir. Ainda vamos aprender esse amor ao longo do tempo. A alegria de um Espírito puro é perene, intensa e permanente, muito distante da nossa alegria que decorre ainda da influência da matéria e é fugaz, fugidia.

Essa é a descrição de Jesus feita por Kardec: um Espírito puro com o perispírito mais sutil possível em nosso mundo, e ocupando um corpo material como o nosso.

Esta transcrição pertence a uma série de cinco textos. Confira os demais números:

— O Espírito de Verdade — Parte 1 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 2 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 3 de 5.
— O Espírito de Verdade — Parte 4 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 5 de 5.

*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.

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