O Espírito de Verdade — Parte 2 de 5
Qual o vínculo entre o Espírito de Verdade e Allan Kardec?
Transcrição da palestra de *Cosme Massi “O Espírito de Verdade”, realizada em 16 de abril de 2016 no Centro Espírita Joanna de Ângelis. Palestra disponível no canal CEJA BARRA no YouTube.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
O Espírito de Verdade era o guia espiritual de Allan Kardec.
Allan Kardec relata esse vínculo na Revista espírita de novembro de 1861, em discurso proferido durante um banquete em sua homenagem na Sociedade Espírita de Bordeaux.
Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Novembro > Banquete oferecido ao Sr. Allan Kardec pelos Espíritas bordeleses > Discurso e brinde do Sr. Allan Kardec
“Em minha alocução de ontem, falei de sua força irresistível. Não sois a prova evidente? Não é um fato característico a inauguração de uma sociedade espírita que, como a vossa, se inicia pela reunião espontânea de cerca de 300 pessoas, atraídas, não por vã curiosidade, mas pela convicção e pelo único desejo de se agrupar num feixe único? Sim, senhores, o fato não só é característico, mas providencial. Eis, acerca deste assunto, o que ainda ontem, antes da sessão, dizia meu guia espiritual, o Espírito de Verdade:
“— Deus marcou com o cunho de sua vontade imutável a hora da regeneração dos filhos desta grande cidade. À obra, pois, com confiança e coragem. Esta noite os destinos de seus habitantes vão começar a sair da rotina das paixões que sua riqueza e seu luxo faziam germinar como joio junto ao bom grão, para atingir, pelo progresso moral que lhe vai imprimir o Espiritismo, a altura dos destinos eternos. Tu vês que Bordéus é uma cidade amada pelos Espíritos, pois vê multiplicar-se em seus muros os mais sublimes devotamentos da caridade, sob todas as formas. Assim, eles estavam aflitos por vê-la na retaguarda do movimento progressivo que o Espiritismo acaba de impor à humanidade. Mas os progressos vão ser tão rápidos, que os Espíritos bendirão o Senhor por ter-te inspirado o desejo de vir ajudá-los a entrar nesta via sagrada.”
Kardec apresenta o Espírito de Verdade como seu guia espiritual.
Aqui temos uma razão simples para Kardec nunca ter dito que o Espírito de Verdade era Jesus: ele 'iria para a fogueira'!
Uma coisa era falar que o seu guia espiritual era o Espírito de Verdade, e outra bem diferente falar: “Meu guia espiritual é Jesus.”
Kardec foi perseguido o tempo todo; imagine-se o que fariam com ele se falasse que seu guia espiritual era o próprio Jesus, o Cristo!
Ao dizer que seu guia espiritual era o Espírito de Verdade, ele disse uma verdade, porque era mesmo. Agora, o Espírito de Verdade é que julgou conveniente dar uma comunicação em que ele se apresentou como Jesus; Kardec nunca negou essa comunicação ou colocou qualquer consideração contrária. É claro que em uma atitude de humildade, de bom senso e de prudência, ele não iria escrever dizendo que seu guia espiritual era Jesus. Preferiu colocar como sendo o Espírito de Verdade.
Isso mostra uma sintonia permanente entre Allan Kardec e o Espírito de Verdade, uma ligação profunda entre os dois.
Temos aqui, então, esclarecido que o Espírito de Verdade era Jesus e era o guia espiritual de Allan Kardec.
Entende-se, então, a capacidade de Kardec de interpretar melhor do que ninguém os pensamentos dos Espíritos elevados.
Na teoria dos anjos de guarda, ditada por Santo Agostinho e São Luís, e que pode ser encontrada no item 495 de O Livro dos Espíritos, veremos que o anjo guardião tem que ser de uma ordem superior à do protegido na escala espírita. Nós somos Espíritos da terceira ordem, Espíritos imperfeitos; na segunda ordem estão os Espíritos bons e na primeira ordem estão os Espíritos puros da escala espírita.
Então a teoria diz assim: se eu sou espírito imperfeito, da terceira ordem, eu posso ter como anjo da guarda um Espírito de ordem superior, ou seja, da segunda ordem ou da primeira. Se estou na segunda ordem, o meu Espírito protetor tem que ser da primeira ordem. Então é muito provável que quem tenha um Espírito protetor de primeira ordem seja da segunda ordem, ou seja, um Espírito bom.
Vamos entender melhor: como é que eu sei se sou da terceira ordem ou de segunda ordem, ou seja, se sou Espírito imperfeito ou sou Espírito bom?
É simples; vou fazer aqui uma única pergunta e saberemos se alguém aqui presente não é da terceira ordem. (Estou supondo que não tenha ninguém aqui da primeira ordem por uma razão muito simples: Kardec disse que o único que encarnou sendo da primeira ordem foi Jesus.)
Se vocês disserem não para a pergunta que vou fazer, vocês são da segunda ordem, mas se disserem sim a pelo menos uma, serão da terceira ordem, ok? Então vamos lá:
Vocês sentem, nem que seja de vez em quando, ciúme? mágoa? tristeza? raiva? ódio? inveja? Sentem? Então são todos da terceira ordem, como eu.
Os Espíritos bons da escala espírita são aqueles que não cultivam nenhuma emoção ruim, são raríssimos encarnados na Terra. Eles não sentem tristeza, mágoa, ciúme, inveja, raiva, ou seja, não sentem nenhuma das paixões ruins, eles têm apenas desejos bons. Eles são nossos anjos de guarda. Eles são raros encarnados na Terra, um mundo de provas e expiações, mas desencarnados não são raros, já que cada um de nós tem um Espírito de segunda ordem a nos orientar. Todos nós temos nosso anjo de guarda.
E, graças a Deus, nós temos um que está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Melhor que internet: não cai a conexão e é de graça. E a gente não usa. . . Nós não fazemos, pela prece, a sintonia com nosso anjo de guarda.
Devemos todos os dias levantarmo-nos e já nos sintonizarmos com ele, para que ele nos oriente as escolhas do dia, para que esclareça, para que nos dê força e coragem para enfrentarmos as dificuldades do caminho. Ele nos atende 24 horas por dia.
E nessa teoria dos anjos de guarda, dizem Santo Agostinho e São Luís: nem nos hospitais, nem nos cárceres, nem nos lugares de devassidão alguém está sem seu anjo de guarda.
A sintonia deles conosco é permanente, mas isso não significa que estejam ao nosso lado o tempo todo; eles estão sempre sintonizados conosco. Podem estar em outro mundo, mas basta que a gente se sintonize com eles para sermos escutados. Precisamos nos habituar a sintonizar com eles.
O Espírito que atua como anjo guardião tem que ser no mínimo da segunda ordem, Espírito bom da escala espírita, pois não poderiam ter nenhuma emoção ruim, nenhum desejo ruim. Nós não serviríamos para atuar como anjos da guarda, porque com nossas paixões atrapalharíamos tudo: imagina um da terceira ordem orientando alguém, e o orientado não quer seguir um conselho! A vontade do orientador já vai ser a de dar um cascudo, não é assim?
Basta ter esse desejo do mal, de agressão, de violência, para mostrar que se trata de um Espírito imperfeito da escala espírita, e que, portanto, não é da segunda ordem. Estes não têm nenhum tipo de sentimento ruim.
Não podemos confundir o anjo de guarda com o Espírito familiar, que pode ser de qualquer ordem. Muitos de nós temos, além do anjo guardião, os Espíritos familiares, os amigos que desencarnaram, o pai, o avô, que zelam por cada um de nós, que nos ajudam, mesmo sendo da terceira ordem. Mas não é este o anjo de guarda, que é sempre pelo menos de segunda ordem, que tem a missão, a responsabilidade atribuída por Deus de ser o nosso protetor. Não interessa o quão mau e perverso é o indivíduo, ele vai ter um anjo da guarda, que será pelo menos de segunda ordem. Então não se pode dizer que o anjo da guarda de um é melhor que do outro, pois todos são pelo menos de segunda ordem. É, pois, bobagem dizer que “Meu santo não se dá com o santo de fulano”, pois os anjos guardiães são todos Espíritos bons ou puros da escala espírita, e não têm sentimentos ruins.
O item 495 de O Livro dos Espíritos nos faz lembrar algo importante e curioso: nem todos os itens dessa obra foram formulados como perguntas aos Espíritos, ou seja, Kardec não formulou uma a uma as perguntas e depois as fez aos Espíritos.
A questão 495 é típica: essa teoria dos anjos de guarda assinada por São Luís e Santo Agostinho consta na Revista espírita de 1859 em uma comunicação espontânea. Kardec recebeu esta comunicação espontânea na Sociedade de Paris. Como a segunda edição de O Livro dos Espíritos é de março de 1860, Kardec pegou o texto da Revista espírita e montou uma pergunta, para que aquela mensagem fosse a resposta. São muitos os exemplos de comunicações espontâneas para as quais Kardec montou uma pergunta e as inseriu como respostas. Era uma forma didática de apresentar o texto, a forma de perguntas e respostas, já utilizada amplamente por outros filósofos no passado.
Esta transcrição pertence a uma série de cinco textos. Confira os demais números:
— O Espírito de Verdade — Parte 1 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 2 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 3 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 4 de 5;
— O Espírito de Verdade — Parte 5 de 5.
*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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